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Os especialistas precoces

Os profissionais estão buscando especialização sem possuírem um olhar generalista que lhes garantirá boas decisões para a carreira.

Inúmeros estudantes têm iniciado cursos de especialização em renomadas universidades antes mesmo de concluírem sua graduação, mas vários deles estão frustrados com aquilo que os professores abordam em sala e sua aplicabilidade num curso prazo. Contudo, será que o problema é o formato dos programas oferecidos ou a inexperiência dos alunos para lidarem com um estudo aprofundado e que requer bagagem profissional, isto é, anos de mercado?

Este é apenas um dos problemas que a “ditadura da pós-graduação precoce” – é assim que eu costumo chamar – está provocando em muitos profissionais desavisados. Antes mesmo de ofertarem suas competências às organizações, bastante gente tem preferido ir para a sala de aula aprender conceitos que seriam muito melhor aproveitados se fossem praticados no próprio cotidiano de trabalho.

Seu amigo pode fazer um curso de aperfeiçoamento pomposo e destacado, mas você não precisa seguir exatamente os passos dele, ainda mais se os objetivos de carreira forem diferentes. O mesmo vale para as pessoas que se inscrevem em programas só porque todo mundo da empresa está fazendo uma pós-graduação e não quer ficar para trás das demais. Nestes dois casos a consequência geralmente tem sido a mesma: frustração, por causa do tempo e dinheiro jogados fora.

É claro que há aqueles pouco preocupados com o aprendizado e que se conservam focados apenas na grife que o certificado final confere ao estudante. Entretanto, será que o diploma continua garantindo alta empregabilidade? Em alguns casos sim, na grande maioria não. O acesso a um MBA, por exemplo, já não é exclusividade de poucos e, segundo a lei da oferta e procura, fazer um curso que muitos também realizam trata-se de um investimento duvidoso a não ser que tal formação seja requisito mínimo para um cargo ou determinada profissão. Isto é: os importantes cursos que poucos fazem é que o diferenciarão no mercado de trabalho, mas ninguém – ou quase ninguém – quer contar isto a você.

Profissionais de 22 ou 23 anos, podem e devem ingressar num curso de especialização, mas desde que já estejam atuando no mercado há algum tempo e percebendo as demandas necessárias para suas áreas específicas de trabalho no presente e futuro próximo. Caso contrário, serão apenas ouvintes nos bancos escolares, quando seu papel deveria ser o de partilha do conhecimento obtido nos cargos exercidos.

É fundamental especializar-se, ainda mais porque encontraremos cada vez mais pessoas com portfólio semelhante. Todavia, em primeiro lugar, cuide dos fundamentos, como numa escolinha de futebol em que o bom treinador não se satisfaz quando percebe que um garoto demonstra ser habilidoso ao driblar, mas apresenta dificuldades no desarme de jogadas, cabeceios ou nos chutes de longa distância. Ele trabalha estes gaps de desempenho o quanto antes a fim de corrigi-los.

Nas organizações, os fundamentos que garantem uma boa performance estão diretamente relacionados à experiência prática. É por isto que os estágios e outros trabalhos não remunerados ajudam tanto no início da carreira quando promovem o amadurecimento da formação teórica por meio do exercício dos conhecimentos obtidos. Aqueles que fizeram um treinamento de Excel e não praticaram as fórmulas logo nas primeiras semanas certamente sabem do que estou falando.

A especialização precisa acontecer no momento em que você já detiver um olhar global sobre a área genérica em que atua, pois assim fica fácil avaliar o caminho a ser trilhado com base em seus valores, motivações e competências, bem como nas oportunidades que o mercado oferece. Ou então, mudar os rumos e recomeçar a busca por um novo aprendizado genérico.

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