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Kodak: uma morte anunciada

Wellington Moreira explica porque a companhia americana acabou perdendo o bonde da história em seu mercado de atuação.

80fc37bfa48decf9bbc75652deabd6a2Criada em 1881, a companhia americana Kodak pediu nesta última semana uma espécie de concordata ao tribunal de Nova Iorque com a intenção de reestruturar-se e, assim, evitar uma provável falência. Com o pedido já aceito, a empresa continuará operando normalmente até que consiga chegar a um acordo com os seus credores.

Não era preciso ser um especialista para saber que, cedo ou tarde, a péssima situação financeira pela qual a empresa vem passando provocaria um estrago maior. Nestes últimos anos, ela se mostrou incapaz de atuar no competitivo mercado fotográfico digital e desde 2007 não consegue ser lucrativa. Para piorar, sua dívida hoje passa de US$ 7 bilhões e as ações da companhia se desvalorizaram 92% nos últimos 12 meses.

Todavia, o seu maior problema talvez tenha sido deixar de promover inovações que a mantivessem no topo da mente de seus clientes. Há alguns anos saíamos à compra de filmes Kodak e não de filmes fotográficos, tamanha a relevância que a marca ocupava em sua indústria. Situação muito diferente daquilo que acontece hoje em dia, quando poucos pensam nela ao adquirirem uma câmera com recursos digitais.

O surreal disto tudo é que foram justamente os engenheiros da própria Kodak que desenvolveram o primeiro protótipo da máquina fotográfica digital no longínquo ano de 1976. Contudo, para não canibalizar o rentável mercado de filmes fotográficos no qual possuía 90% do faturamento global, a empresa não levou o invento à frente. Resultado: ficou sem os dois negócios.

Alguns justificam a resistência da Kodak a este novo mercado lembrando que as imagens dos primeiros modelos digitais testados eram muito ruins, o que a levou a acreditar que os amantes da fotografia jamais adeririam ao produto. Raciocínio bem diferente da Sony, que viu ali uma oportunidade ímpar e anos depois se consagrou ao atender clientes ávidos por inovações tecnológicas no setor.

É claro que a companhia não poderia prever que no futuro as câmeras fotográficas digitais atenderiam com louvor os interesses de seus milhões de clientes, já que não há uma lógica mercadológica que assegure o que dará certo ou não. Contudo, provavelmente o excesso de confiança oriundo do sucesso alcançado até então cegou a empresa nas décadas seguintes, algo muito comum entre grandes corporações, como explica o guru americano Jim Collins em seu livro “Como as Gigantes Caem” (Ed. Campus).

Outro erro estratégico da Kodak foi investir nestes últimos anos especialmente em mercados maduros que proporcionaram pouco retorno à companhia – como o americano e o europeu –, relegando os países emergentes. Quando percebeu o equívoco de tal estratégia os estragos já estavam feitos.

É claro que chegou um momento em que a empresa procurou se mexer. Depois que percebeu ter perdido seu principal mercado-alvo para concorrentes mais preparadas tomou a decisão de diversificar o mix de produtos ingressando em áreas como a fabricação de impressoras e passou a oferecer serviços de hospedagens de imagens, mas nenhum destes novos negócios foi suficiente para corrigir os estragos cometidos anteriormente.

Quando George Eastman fundou a Kodak 131 anos atrás possuía um olhar inovador e o propósito de popularizar a câmera fotográfica a tal ponto que pudesse ser utilizada por pessoas comuns em suas casas ou em qualquer lugar que quisessem. Uma visão que se concretizou e explica porque a companhia conseguiu registrar a incrível marca de mais de mil patentes na indústria fotográfica durante as décadas seguintes.

Empresas abrem e fecham as portas todos os dias no mundo, mas é muito triste ver uma companhia tão conhecida e com 19 mil colaboradores agonizar desta forma justamente por causa de sua incapacidade de inovar. Os últimos gestores bem que poderiam ter aprendido com as histórias do seu fundador.

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