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Os gestores paternalistas

Centralizadores e inseguros, os paternalistas fortalecem a dependência dos seus liderados e ainda provocam outros estragos nas companhias.

538d973caeffe6fd63a1ac7434dd09f9Poucos minutos depois, ao adentrar a sala da presidência, um dos colaboradores se despedia do empresário com estas palavras: “Pai, fique tranquilo! Eu cuidarei de tudo o que o senhor me pediu.” Ouvindo a seguinte recomendação: “Se surgir alguma dúvida, não pense duas vezes para me procurar, hein?”

Num primeiro momento eu até poderia pensar que se tratava de outro filho trabalhando por lá, mas como estes dois interlocutores tinham uma diferença de idade que não superava dez anos e ainda pude conversar com várias pessoas durante as duas horas seguintes, não foi difícil captar que lá todos realmente o viam como pai. Resumo da história: a empresa não precisava de um consultor e sim de um terapeuta.

É claro que o exemplo desta empresa pode ser considerado como excepcional, mas já é hora das organizações pararem de utilizar o velho discurso de que todos aqueles que ali trabalham formam uma família, pois se houver disposição do alto staff em atuar de modo paternalista o estrago é certo por alguns motivos.

O primeiro deles é que, invariavelmente, este tipo de liderança opta pela centralização, ainda que o discurso seja outro. Sua mesa permanece lotada de coisas, orgulha-se de não tirar férias, fica no escritório até mais tarde e lembra reiteradas vezes à equipe que levou trabalho para casa durante o final de semana. É que posar de santo ajuda a disfarçar a insegurança pessoal que conserva em seu íntimo.

Também visto como “Oráculo”, adora fornecer respostas quando seus liderados estão diante de problemas em vez de fazer as perguntas certas às pessoas para que elas mesmas possam encontrar as soluções para os desafios que enfrentam. “O que seria de vocês sem mim?” é um mantra que evoca a todos e poucos têm coragem de desacreditar.

O pior é que há uma parcela de funcionários que adoram este tipo de chefe, preferindo a dependência ao amadurecimento, afinal assumir a responsabilidade pelo que lhes acontece dá muito mais trabalho do que colocar em prática todos os conselhos e pílulas de sabedoria que escutam diariamente.

Por outro lado, adepto da crença de que os colaboradores devem obedecê-lo cegamente, não aprecia lidar com pessoas criativas ou que apresentam alto potencial de liderança, já que os vê como impertinentes. Além disto, tem dificuldades para fornecer feedback, avaliando a boa performance como obrigação das pessoas e o desempenho insatisfatório como merecedor de castigo.

Mas será que não há um contexto no qual o estilo paternalista possa ser adotado? Existe sim. Quando o seu time – ou algum dos liderados – detém alta capacidade técnica, mas se encontram desmotivados com o trabalho é necessário oferecer o suporte adequado – inclusive emocional – que caracteriza o estilo paternalista. Todavia, tão logo o nível de automotivação retorne a um bom patamar é necessário que o líder deixe de exercer o papel de ajudador.

Até mesmo na educação dos filhos é importante conhecer os poucos momentos nos quais é possível adotar o estilo paternalista e as várias situações nas quais é imprescindível evitá-lo a fim de que as crianças cresçam seguras, autoconfiantes e se desenvolvam integralmente.

Quanto ao âmbito profissional, colaboradores capazes e autoconfiantes não são obra do acaso e sim o reflexo de uma liderança madura e que inspira as pessoas a também amadurecerem. De um modelo de gestão de quem não espera se perpetuar no cargo conservando a incompetência dos demais.

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