Há trinta anos, liderar uma equipe de trabalho ou dirigir uma empresa eram missões bem menos arriscadas do que atualmente. Quer ver um exemplo disso? É só você pegar um anúncio de emprego para o cargo de gerente de vendas publicado em algum jornal de 1990. Os pré-requisitos eram moleza em relação ao que passamos a exigir deles.
A verdade é que de lá para cá boa parte daquilo que sustentava os líderes nas empresas ruiu por dois motivos: o tipo de relacionamento que precisamos manter com as pessoas agora é muito diferente e a revolução da informação enfraqueceu nossa capacidade de tomar boas decisões.
O simples fato de ocupar um cargo de gestão era suficiente para se fazer respeitado porque o que importava não era a pessoa do líder e sim o poder formal que ele representava. Se nas salas de aula o tablado simbolizava o manda-quem-pode-obedece-quem-tem-juízo, nas empresas as vagas de estacionamento privativas e salas pomposas reservadas às chefias demarcavam a ordem do poleiro (quem bicava quem).
Mudanças na sociedade
Nos últimos quinze anos, temos presenciado uma crescente resistência à autoridade formal em todos os setores, muitas pessoas fazem de tudo para trabalhar em empresas que realmente se preocupam com o clima organizacional, as estruturas horizontais estão em moda e os liderados querem conhecer o que seus líderes fazem antes de segui-los. Ou seja, o respeito à liturgia do cargo está em processo de desaparecimento.
O problema é que boa parte dos líderes ainda se sentem desconfortáveis com a ideia de criar uma proximidade maior com os liderados. Especialmente aqueles que viveram o “mundo antes do Google”, no qual ficar trancafiado na sala durante o dia inteiro sem ter contato com ninguém parecia ser a coisa certa a fazer e agora sente a pressão de puxar papo com o estagiário que senta ao seu lado no open space.
O volume absurdo de informações disponíveis também tornou a vida dos líderes mais complicada. Antigamente, quando você precisava tomar uma decisão, pesava os dois ou três fatores importantes e pronto. Com uma certa experiência e bom senso, bastante coisa já era resolvida na hora.
Excesso de informação
Hoje, muito daquilo que você recebe de informação serve apenas para confundi-lo e por isso um dos principais desafios que temos é saber diferenciar o que é relevante do que é lixo informativo. Se eu posso dar uma dica a você é a seguinte: seja criterioso com aquilo que lê ou assiste e com quem você se aconselha.
A democratização do acesso ao conhecimento também trouxe um efeito colateral indesejado para muitos líderes: às vezes, membros da sua equipe estão mais preparados do que você para tomar decisões, eles só não têm a caneta. Nessa hora, os gestores do velho jeito ficam furiosos e quem está alinhado com os novos tempos agradece aos céus por ter colaboradores que podem ajudá-lo a evitar erros.
Dias atrás meu filho de sete anos pegou em casa uma cartela de cores de uma dessas empresas de tintas e ficou surpreso com o número de tons de verde que existem (eu contei 261 no total). Na cabecinha dele, até então só cabiam as quatro tonalidades do estojo de 24 unidades que usa em casa. E o resultado disso já é visível: ele parece enxergar o mundo com novos tons, até ao retirar uma camiseta do armário.
Tome boas decisões
A mesma coisa tem acontecido em relação ao exercício da liderança. Diante de um contexto cada vez mais volátil, incerto, complexo, ambíguo e aleatório – ufa! –, ou assimilamos novas nuances que envolvem o trabalho de gestão ou nossa eficácia simplesmente desaparece.
A consequência desse “aperto” aos líderes é que muita gente tem decidido sair do jogo. Como me disse uma profissional dias atrás: “Empresas e pessoas guardam tanta expectativa em relação aos gestores que eu escolhi ser uma boa liderada. É uma opção menos frágil”.
Apesar das fragilidades, se você consegue atuar conectado aos valores desses novos tempos e tomar boas decisões em meio ao excesso de informações que chegam até você, não tenha dúvida de que está no caminho certo. E uma ótima notícia: seu futuro é muito promissor.