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Quem é responsável chega mais longe

Não tirar o corpo fora virou um baita predicado num mundo em que tanta gente quer ganhar troféu sem suar.

responsabilizaçaoVocê já deve ter visto esta cena: o irmão maior faz uma traquinagem, os pais descobrem e ele coloca a culpa no irmãozinho que ainda nem aprendeu a pronunciar palavra alguma. Pois esta cena também ocorre diariamente nas organizações.

De cada três altos executivos com os quais eu converso, um me pergunta o que ele deve fazer para lidar com a falta de responsabilização que acomete boa parte dos colaboradores da sua equipe. Só que esses gestores nem sempre têm ciência de que o problema pode estar sendo provocado por eles mesmos. Quando o líder costuma tirar o corpo fora, os subordinados entendem que é assim que as coisas funcionam por ali.

Você descobre se esse é o seu caso ou não analisando friamente aquelas situações em que os planos dão errado ou precisa lidar com uma crise de última hora. Como age sob pressão? E a forma como costuma explicar determinados fatos depois de ocorridos? Quem se vitimiza é expert em desculpas esfarrapadas e quem assume a responsabilidade arca com o ônus sem pestanejar.

Outro fenômeno bastante comum hoje em dia é a responsabilização coletiva com o intuito de dispersar as consequências. O ato de todos se considerarem culpados dividindo as responsabilidades em igual proporção para que, no final das contas, ninguém tenha de responder a nada.

Contudo, como nem sempre existe um bode expiatório ou a rapidez de raciocínio necessária para criar uma justificativa aceitável, muita gente tem recorrido ao mantra “Eu não sabia”. Aliás, o jornalista Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, num precioso texto publicado em setembro de 2014, escreveu: “Eu não sabia passará à história como a frase-lema do Brasil pós-ditadura. Será lembrada quando, no futuro, quiserem recordar a época em que o país era regido pelo cinismo.” Um processo que, nas palavras do mesmo jornalista, dia após dia tenta transformar “cúmplices notórios em cegos atoleimados”.

Discussões políticas à parte, até nas escolas e universidades o mantra é declarado. “Eu não sabia que este assunto ia cair na prova” é uma das frases que os professores mais escutam de alunos que, atrevidamente, procuram se safar por não terem estudado como deveriam.

A Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, em seu artigo 3º, assim determina: “Ninguém pode alegar o desconhecimento da lei para agir em desconformidade com a legislação”. Bem que poderíamos instituir um princípio semelhante nas organizações: “Ninguém pode tentar tirar o corpo fora quando o dever de ofício ou o bom-senso devem imperar”.

Só que me permitam a lembrança: desvios de caráter geralmente começam com a educação recebida em casa. Hoje em dia, quando um aluno vai mal na escola, seus pais logo pressionam o professor, ignorando que os próprios filhos deveriam se virar para resolver seus problemas. Mais: ao protegê-los em demasia, transmitem a falsa ideia de que alguém sempre acobertará suas falhas. Só que o mercado de trabalho não é bonzinho e condescendente anos depois…

Se você quer que o seu filho se sinta responsável por aquilo que acontece na vida dele, então deixe-o sofrer as dores do que lhe causa frustração. A ideia equivocada de que felicidade é um direito está conduzindo muitas pessoas a atitudes que põem em risco tanto a carreira quanto a própria vida civil. Muita gente comete crimes hoje em dia simplesmente por acreditar que a sua transgressão não dará em nada.

Enquanto gestor, para evitar que algumas pessoas “se escondam”, procure fazer com que elas tenham metas claras e realizem trabalhos cujo desempenho individual seja facilmente mensurado. Temos de valorizar o trabalho em equipe sim, mas também é importante que todo colaborador saiba exatamente o quanto contribui com a empresa.

Qualquer pessoa só amadurece de verdade e torna-se um bom cidadão se tem a chance de arcar com as consequências daquilo que diz e faz. Além disso, como boa parte das pessoas corre do ônus sem pensar duas vezes, quem o aceita abre um leque de oportunidades para a sua carreira. Incrivelmente, não tirar o corpo fora virou um baita predicado num mundo em que tanta gente quer ganhar troféu sem suar.

Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

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