Clístenes foi o legislador ateniense responsável por promover uma série de importantes reformas que consolidaram a democracia na Grécia Antiga, por volta do ano 500 a.C. E, para isso, ele criou dispositivos legais muito eficazes na época, como o ostracismo.
Na prática, qualquer cidadão acusado de violar a estabilidade do regime democrático poderia ter seus direitos políticos cassados e ainda ser condenado ao exílio durante dez anos, sem a perda de suas propriedades. Portanto, o ostracismo tratava do afastamento imposto de alguém do meio social e da sua participação em atividades que antes eram habituais.
Para que o processo fosse justo, convocava-se uma grande assembleia na qual os nomes dos réus eram submetidos a votação secreta e aqueles que recebiam pelo menos seis mil votos acabavam condenados ao banimento. A exigência de um número de votos tão expressivo tinha motivo: o mecanismo não ser utilizado por adversários que simplesmente buscavam se vingar de alguém.
A era das cidades-estado gregas já se foi, mas a prática do ostracismo persiste, mesmo que com outra roupagem. Agora o chamamos de “cancelamento”, que nada mais é do que o esforço de banir alguém influente de um círculo por algum comportamento que o grupo considera inapropriado.
Dentro das organizações, a forma de banimento típica mais visível é a demissão. Porém, existem várias outras estratégias sutis aplicadas, por vezes até de forma cruel. Por exemplo, a pessoa deixa de ser convidada para participar das reuniões gerenciais às segundas-feiras depois de dois anos fazendo parte dela – e sem qualquer explicação. Ou, então, é excluída dos happy-hours da galera do departamento.
Nas grandes companhias, um sinal claro de ostracismo para quem possui cargos de gestão é ser enviado para uma unidade que fica muito distante da sede central da empresa ou que não possui prestígio algum por lá. A pessoa sabe que a “promoção” na verdade é uma “punição”.
O colaborador também foi colocado em ostracismo quando “está na geladeira”. A empresa cresce a olhos vistos, a toda hora alguém é promovido, ele é reconhecido como de alto potencial e, assim mesmo, não sai do lugar.
Quando toco nesse assunto em treinamentos, é comum que as pessoas me perguntem: “E o que eu faço quando percebo que fui colocado em ostracismo?” A questão depende fundamentalmente do quão você está preparado para se manter em exílio e o tanto de vontade que tem de retomar o prestígio que possuía até então.
Para alguém que durante um bom tempo foi considerado útil e agora já não é mais, às vezes a melhor coisa a fazer é buscar uma outra “cidade-estado” para viver.