Durante muito tempo, o roteiro de uma carreira bem-sucedida podia ser resumido em: destacar-se tecnicamente, receber uma ou duas promoções e logo depois iniciar uma trajetória de liderança. Mas as coisas estão mudando e não é por falta de ambição das pessoas.
Cada vez mais profissionais qualificados rejeitam cargos formais de liderança, um movimento que ganhou nome lá fora – A Grande Recusa – e que por aqui também já exibe seus sinais. E o que está em questão não é a liderança em si, mas a forma como parte da sociedade enxerga os papéis de gestão hoje em dia.
Para muitos, assumir uma posição de chefia significa trocar autonomia por reuniões intermináveis, lidar com metas cada vez mais agressivas, ter de administrar conflitos constantes e ainda ser responsável pela saúde emocional de um time inteiro – tudo isso sem a formação adequada, sem apoio institucional e, pior ainda, sem um propósito claro.
Não se trata, portanto, de uma recusa por preguiça, desinteresse ou medo de assumir responsabilidades. O que vemos é uma geração menos disposta a abrir mão da saúde mental e da qualidade de vida para galgar posições de alto escalão.
Outro complicador é o fato de que as empresas não costumam fazer sua parte. Uma pesquisa realizada poucos anos atrás, apontou que apenas 15% dos líderes brasileiros recebem algum tipo de capacitação quando assumem sua primeira posição de gestão.
E os demais? Aprendem “na raça” ou então simplesmente reproduzem o malfadado modelo comando-e-controle, gerando baixa performance, um péssimo clima organizacional dentro das equipes, evasão de talentos e tantos outros problemas que costumam sufocar o crescimento de companhias por todos os cantos do país.
Qual o caminho, então? Se queremos formar bons líderes, precisamos mudar a pergunta. Em vez de “por que ninguém mais quer ser chefe?”, talvez seja melhor questionar: “O que podemos fazer para que as pessoas queiram seguir uma carreira de gestão?”
A resposta passa por:
- Valorizar o trabalho dos líderes. Estar à frente das coisas deve ser motivo de satisfação e não sinônimo de sobrecarga, sacrifícios ou heroísmo. Existem desafios sim, porém a liderança é uma incrível jornada de descobertas, conexões humanas e crescimento.
- Criar bons modelos de liderança. Se as referências que as pessoas têm são líderes estressados ou tóxicos, é natural que queiram distância desse papel. Ou seja, cultive líderes humanos, acessíveis, éticos e equilibrados para que mais gente queira seguir esse caminho.
- Permitir que as pessoas se testem como líderes antes de sentarem na cadeira. Algumas experiências de curto prazo (como cobrir as férias do chefe) ajudam pessoas de alto potencial a entenderem o papel do líder antes de tomarem uma decisão definitiva.
- Oferecer trilhas de desenvolvimento antes e depois da promoção. Ainda que o novo líder pareça capaz de se virar sozinho, é importante fornecer suporte e apoio durante um bom tempo, pois ele passará por várias “primeiras vezes” antes de se tornar alguém experiente de verdade.
Como ensina a professora norte-americana Frances Frei: “Não é que liderar seja difícil demais. É que, muitas vezes, ninguém mostra como pode ser possível de um jeito saudável.”
Pense nisso!