Não é difícil encontrar nas empresas de hoje colaboradores que ignoram, desafiam ou simplesmente desconsideram seus líderes como figuras de autoridade. Pior ainda: em alguns lugares o respeito à hierarquia até parece um artigo de luxo.
Mas, o que aconteceu de alguns anos para cá, que mudou a dinâmica nas organizações?
Vivemos em uma sociedade que questiona cada vez mais qualquer forma de poder estabelecido. A autoridade dos pais foi relativizada; a dos professores, esvaziada; e a dos líderes políticos, completamente corroída por escândalos sucessivos. A ascensão das redes sociais democratizou a opinião, mas também ajudou a difundir a ideia de que “ninguém manda em ninguém”. E é claro, esse espírito libertário chegou com força ao mundo corporativo.
Uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que 58% dos profissionais afirmam já ter perdido o respeito por um líder devido à percepção de falta de competência ou coerência. Em contrapartida, outro estudo do Gallup mostra que equipes com líderes com credibilidade têm 27% mais chances de apresentar alta performance. Ou seja, o respeito não desapareceu, ele apenas migrou de lugar: deixou de estar na posição e passou a estar na pessoa.
Ainda assim, há um desafio objetivo: muitos profissionais não conseguem mais lidar com o conceito de autoridade. Confundem liderança com controle, chefia com opressão, hierarquia com injustiça. E isso gera uma disfunção grave nas empresas: decisões são questionadas em voz alta sem dados, prazos são descumpridos sob a justificativa do “não concordei com a prioridade”, e líderes veem sua influência corroída por uma postura de desconfiança crônica.
E é claro, o problema não está apenas nos liderados. Muitos líderes também têm dificuldade em se posicionar. Com medo de parecerem autoritários, evitam conflitos, hesitam diante de decisões difíceis e perdem o timing para corrigir rotas. A tentativa de ser um “líder legal” acaba gerando um vácuo de autoridade — e nesse vazio, a cultura organizacional se fragiliza.
Como bem disse Peter Drucker: “Onde não há respeito, não há liderança”. E talvez esse seja o ponto central: o respeito precisa ser reconstruído, e isso exige esforço mútuo. De um lado, líderes que inspirem por sua integridade, clareza e consistência. Do outro, profissionais maduros o suficiente para entender que reconhecer a autoridade legítima é um sinal de inteligência social e não de submissão.
Respeitar a hierarquia não significa obedecer sem pensar, mas entender que uma empresa precisa de estrutura e líderes formais capazes de conduzir as pessoas no dia a dia. Quando tudo exige consenso ou vira disputa de opinião, não há decisão. E sem decisão, não há direção. E sem direção, não há progresso.
Em resumo, que o ensinamento do psicólogo e escritor canadense Jordan Peterson ressoe pela sociedade como um todo: “Rejeitar toda forma de autoridade não é liberdade, é infantilidade”.
Pense nisso!