Artigos

O Efeito Dunning-Kruger no trabalho

O viés cognitivo que faz os menos preparados se acharem especialistas e os mais capacitados duvidarem de si

O Efeito Dunning-Kruger no trabalhoTodo mundo já viveu essa cena: durante uma reunião, alguém que pouco entende do assunto levanta a mão e começa a dar opiniões com uma convicção impressionante, ainda que para os mais experientes da sala, aquilo não faça o menor sentido. Esse comportamento tem nome, sobrenome e uma curva que o representa: trata-se do Efeito Dunning-Kruger.

Identificado em 1999 pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger, da Universidade de Cornell (EUA), o efeito descreve um fenômeno cognitivo curioso: quanto menos sabemos sobre algo, mais confiantes tendemos a estar em relação àquilo. Isso acontece porque a ignorância nos impede de perceber a própria ignorância — um tipo de “cegueira da incompetência”.

Para explicar melhor, pense numa curva com quatro etapas, muito conhecida nos estudos sobre o tema:

  1. Monte da estupidez (ou pico da confiança ilusória): É o início da jornada. A pessoa aprende um pouco sobre um assunto e, de repente, acha que já entendeu tudo. É comum nesse ponto que ela dê opiniões firmes, fale como especialista e rejeite conselhos porque está com a autoconfiança inflada.
  2. Vale da humildade (ou depressão da dúvida): À medida que o conhecimento real aumenta, a confiança despenca. A pessoa começa a perceber a complexidade do tema e se dá conta de tudo o que ainda não sabe. Aqui nascem a insegurança, a dúvida e a escuta atenta.
  3. Encosta do aprendizado: Com mais estudo, prática e troca de experiências, a pessoa volta a ganhar confiança — desta vez, mais fundamentada. Já não fala com tanta certeza sobre tudo, mas suas contribuições começam a ter mais consistência.
  4. Platô da sabedoria: É o ponto em que o profissional se torna, de fato, competente. Sua autoconfiança é moderada e proporcional ao conhecimento adquirido. Ele tem plena consciência de que nunca saberá tudo e, por isso mesmo, segue aprendendo.
Efeito Dunning-Kruger
Fonte: Adaptado do Efeito Dunning-Kruger (Kruger & Dunning, 1999)

No ambiente de trabalho, esse efeito pode ter consequências sérias. Um gestor inexperiente, mas excessivamente confiante, toma decisões ruins achando que está “sendo ágil”. Um funcionário recém-promovido corre o risco de acreditar que já tem todas as respostas, deixando de ouvir os colegas de área. E, em contraste, profissionais sêniores e competentes podem hesitar em contribuir justamente por reconhecerem a complexidade das decisões e o peso de um possível erro — muitas vezes sob influência da chamada Síndrome do Impostor, outro viés cognitivo bem conhecido.

É por isso que empresas maduras investem cada vez mais em cultura de feedback, incentivo à aprendizagem contínua e ambientes psicologicamente seguros, onde não saber não é sinal de fraqueza e sim de abertura.

No mesmo sentido, estudiosos como o psicólogo organizacional Adam Grant, autor de Pense de Novo, destacam que os melhores líderes não são aqueles que demonstram certeza o tempo todo, e sim os que têm a coragem de dizer “não sei” e continuam aprendendo.

Sim, o verdadeiro desafio não está apenas em identificar o Efeito Dunning-Kruger nos outros, mas em reconhecer quando ele pode estar atuando em nós mesmos. Como ensinou o filósofo britânico Bertrand Russell: “O problema do mundo é que os tolos são cheios de certezas, enquanto os inteligentes estão repletos de dúvidas”.

banner caput

Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

Veja mais conteúdos

Nossos serviços

Icone Branco Caput Consultoria

Fale com um
especialista
agora mesmo!

Pronto para impulsionar sua Liderança?