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A Indústria do Medo

A Indústria do Medo sempre serve aos interesses de quem está no poder – ou de quem está disposto a fazer de tudo para tomá-lo. 

Quem costuma acolher notícias ruins sem espírito crítico algum, adora compartilhar teorias conspiratórias e ainda tem preguiça de ler qualquer coisa com mais de três parágrafos é facilmente cooptado pela Indústria do Medo.

Quando o contexto envolve a troca de governo no Palácio do Planalto depois de uma verdadeira batalha em que os dois principais candidatos abandonaram a apresentação de propostas para ficar martelando o tempo todo por que você deveria temer o oponente, aí o quadro piora muito.

O momento atual me faz lembrar a história do Seu Zé, pequeno comerciante que vendia o melhor cachorro-quente da cidade. Assim que seu filho se formou em economia, começou a alertá-lo sobre uma grave crise que assolaria o país e as dificuldades que viriam junto dela.

Depois de ouvir o discurso alarmista do filho algumas vezes, o empresário resolveu diminuir seus custos passando a comprar pão de qualidade inferior, molhos prontos em grande quantidade para renderem mais e também trocou o fornecedor de salsichas.

Com o tempo, a freguesia da barraquinha do Seu Zé foi diminuindo, os clientes que marcavam presença toda semana já não apareciam mais e realmente as coisas foram se complicando financeiramente. No final daquele ano Seu Zé concluiu que o filho tinha razão: a crise havia chegado.

É natural ficarmos cautelosos com notícias que alardeiam a possibilidade de uma recessão econômica no próximo semestre, mas você acha sinceramente que os “clientes desaparecidos” do Seu Zé pararam de comer cachorro-quente? Eles foram para a concorrência.

O próximo ano será difícil para quem ainda não entendeu que no mundo dos negócios a única certeza é a incerteza e as empresas lentas continuarão a ser atropeladas pelo rolo compressor das mudanças. Se você está atento ao comportamento do seu cliente e já compreendeu os ajustes de rota que precisam ser feitos, então não há muito o que temer.

No final da década de 1940, o sociólogo norte-americano Robert Merton descreveu em detalhes a chamada Profecia Autorrealizável, explicando a capacidade que o ser humano tem de fazer com que suas crenças se tornem realidade – tanto as positivas quanto as negativas. Ou, ainda, como ensina a sabedoria popular: “Se você só pensa em desgraça, logo ela realmente vai bater em sua porta”.

A Indústria do Medo sempre serve aos interesses de quem está no poder – ou de quem está disposto a fazer de tudo para tomá-lo. Joseph Goebbels, grande arquiteto da propaganda nazista e braço-direito de Hitler, inclusive, já pregava décadas atrás: “A propaganda deve limitar-se a um número pequeno de ideias e precisamos repeti-las incansavelmente, apresentando-as de diferentes perspectivas; mas sempre convergindo sobre o mesmo conceito. Uma mentira dita mil vezes torna-se uma verdade”.

A prudência é uma das principais virtudes a serem cultivadas, pois é ela que o ajuda a evitar perigos desnecessários em qualquer esfera da vida. Mas, lembre-se: cautela exagerada provoca paralisia e retrocesso. Algo que certamente você não quer.

Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

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