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A política do caos como estilo de gestão

Tem líder que vende o veneno e depois oferece o antídoto.

A política do caos como estilo de gestãoHá líderes que parecem gostar de ver o circo pegar fogo desde que sejam eles os donos do balde d’água. Criam tensões, espalham medo, confundem prioridades e depois surgem como os únicos capazes de restaurar a ordem.

É claro que fazem tudo isso em nome de um “discurso nobre e grandioso”, mas o que realmente querem é dependência emocional e paralisia coletiva. O que costumamos chamar de política do caos, um método de gestão tão antigo quanto destrutivo no qual a instabilidade é um projeto, não um acidente.

Eles entendem que precisam gerar o problema, aparecer com a solução e ainda reforçar a ideia de que nada funciona sem sua presença. Por isso é que marcam reuniões de última hora, mudam de direção a cada semana e cultivam a ansiedade por onde passam.

Donald Trump, por exemplo, elevou essa tática à categoria de estilo de governo. Ao promover o conflito, desperta a sensação de crise constante, que o mantém como protagonista. No mundo corporativo, há gestores que fazem o mesmo: semeiam medo, estimulam rivalidades e depois se oferecem como mediadores indispensáveis.

A política do caos, em resumo, é uma forma sofisticada de manipulação. Funciona porque o temor silencia, a dúvida desmobiliza e a instabilidade mantém todos olhando para o topo em busca de direção. Em vez de colaboração, instala-se vigilância. Em vez do engajamento, receios. Coloca as pessoas em modo de sobrevivência.

Esse modelo de gestão é sedutor porque dá ao chefe a ilusão de poder absoluto e no curto prazo pode até funcionar — o time corre, cumpre prazos, evita confronto. O ambiente transparece energia, já que há movimento, urgência, reuniões, e-mails, barulho. O líder parece ativo, envolvido e necessário. Porém, com o tempo, a organização se enche de silêncios, alta rotatividade e fuga de talentos.

Se o caos virou rotina na sua empresa, talvez o problema não esteja na complexidade do mercado, nem na falta de gente qualificada. Pode estar justamente em quem se alimenta do desarranjo para parecer essencial.

“Grandes empresas quebram não por falta de visão, mas por excesso de ego no comando”.              Jim Collins 

Um bom líder resolve o caos — não o fabrica. Constrói sistemas que sobrevivem à sua ausência, não palcos que dependem de sua presença. Como lembra Jim Collins, “grandes empresas quebram não por falta de visão, mas por excesso de ego no comando”.

Toda empresa tem seus incêndios, mas nem todas têm quem jogue gasolina. Quando o caos é o método, o problema não está na faísca, está em quem acende o fósforo. E, nesses casos, o melhor plano de gestão continua sendo o mesmo: trocar o bombeiro.

O verdadeiro líder não precisa de fumaça para provar que existe. Ele gera clareza, promove segurança e inspira autonomia. Cria um ambiente onde as pessoas agem por convicção, não por pânico. Onde a previsibilidade não é tédio e sim sinal de maturidade.

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Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

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