Artigos

A armadilha do fundador

Muitos dirigentes inviabilizam​ ​empresas que têm tudo para crescer por não reconhecerem o limite da sua​ ​competência.

001Você já parou para observar de perto os comportamentos comuns à maior parte dos empresários que acabaram de abrir um novo negócio? Eles demonstram disposição de sobra, são contagiantes ao falarem das oportunidades que o mercado lhes oferece e muitos deles encaram o sucesso do empreendimento como uma questão de honra.

Por isso mesmo, não surpreende o fato de que, algum tempo depois, cada companhia tenha a cara e o jeitão do seu fundador. Quando a personalidade dele é permissiva ou liberal, a empresa se caracteriza por ser um lugar mais descontraído e informal; se é autoritário por natureza, comando e controle certamente não faltam. E é claro, os produtos e serviços têm muito do seu modo de ver e fazer as coisas.

O sentimento de vitória ao completar os dois primeiros anos de vida da empresa também é algo que marca muito a vida de quem toca o primeiro negócio em sua carreira e era visto com desconfiança até pouco tempo atrás. A dificuldade é se dar conta, enquanto comemora, que o jogo está apenas começando e ainda há muita coisa a fazer.

A competência de qualquer empreendedor é colocada à prova de verdade quando você passa a enfrentar os desafios próprios de quem está à frente de uma organização que precisa chegar à adolescência. Ou seja, lida com decisões difíceis que a farão crescer de forma consistente, estagnar-se ou falir algum tempo depois.

É nesta hora que muitos caem naquilo que podemos chamar “armadilha do fundador”. Isto é, você atinge o limite da sua competência de liderança, mas não é capaz ou não está disposto a reconhecê-lo. A sua identidade e paixão encontram-se tão misturadas com a empresa, que ignora o fato de que não está à altura dos novos desafios.

Quem se orgulha por ser um verdadeiro self made man não crê que o seu talento tenha limites. Além disso, você mesmo deve conhecer pessoas que surgiram praticamente do nada e preferem naufragar a pedir ajuda de terceiros, num tipo de autossuficiência que beira a arrogância e leva várias companhias à bancarrota país afora.

Muita gente também não sabe que as habilidades para empreender um negócio são bem diferentes daquelas exigidas de quem precisa perpetuá-lo. Mais: a pessoa que inicia uma organização pode não ser o dirigente ideal para conduzi-la quando a coisa engrena.

Gente com perfil empreendedor, que desafia o status quo, que tem uma certa dose de agressividade na tomada de decisões e é empolgante ajuda muito quando a empresa abre as portas ou precisa se reinventar. Pessoas mais centradas, analíticas e pouco apaixonantes são ótimos administradores se a empresa vive uma fase de consolidação.

Você até pode adquirir as competências para ser, ao mesmo tempo, um baita empreendedor e um administrador eficaz; mas, talvez a sua empresa não possa esperá-lo se desenvolver porque os problemas dela precisam ser resolvidos imediatamente. Neste caso, é preciso buscar ajuda de fora.

Se você toca o dia a dia da companhia sozinho e conta apenas com o seu bom senso e competência para tomar todo tipo de decisão, pode encontrar um sócio que já conheça bem o mercado a fim de dividirem os riscos do negócio. Se esta opção não o agrada, outra boa ideia é contratar um executivo experiente e dar espaço para ele mudar o que for necessário.

Simultaneamente, também pode buscar o apoio de conselheiros. Um consultor experiente e que já atendeu empresas com problemas semelhantes tem tudo para compartilhar o tipo de conhecimento que você levaria anos até obter por conta própria. Outros empresários do seu setor de atuação também são uma boa fonte de consulta e aprendizado.

Como eu costumo dizer, poucas pessoas fazem parte da “categoria dos ninjas” e estão prontas para resolver tudo o que aparece pela frente. Se você fundou uma empresa e percebe que já não está à altura dos desafios que precisam ser enfrentados, não se sinta envergonhado ou incompetente. Tenha o desprendimento e a responsabilidade de pedir ajuda; não há demérito algum nisso.​

Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

Veja mais conteúdos

Nossos serviços

Fale com um
especialista
agora mesmo!

Pronto para impulsionar sua Liderança?

Open chat
Como podemos te ajudar?
Olá, tudo bem? Sou o Ricardo.
Como posso te ajudar?