Na clássica obra “O Choque do Futuro”, lançada no início dos anos 1970, o pensador e futurista norte-americano Alvin Tofler, já previa: “Os analfabetos do século XXI não serão mais aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.”
Temos que concordar que ele realmente estava certo. A maior luta do homem atual não é ter o que aprender, pois o volume de informação disponível já dobra a cada dois anos. O mais difícil passou a ser conseguirmos separar a informação relevante daquela que apenas nos faz perder um precioso tempo.
Para se ter uma ideia, alguns pesquisadores afirmam que um garoto de dez anos que vive nos dias atuais já acumulou mais informação do que Leonardo da Vinci pôde assimilar durante todos os seus 67 anos de vida. E olha que este pintor, escultor e inventor é considerado o homem mais extraordinário dos séculos XV e XVI.
Quando pergunto a alguém qual a palavra mais importante desta frase de Tofler geralmente as pessoas respondem que se trata do termo “reaprender”. Não é. Para que a reaprendizagem aconteça antes é imprescindível que desenvolvamos a capacidade de desaprender, isto é, deixar para trás aquilo que nos orientou até então.
E como é difícil esquecer! Alguém já afirmou certa vez que somos uma coleção de hábitos, tanto bons quanto ruins. Se você utiliza relógio em seu pulso, faça um exercício simples para perceber como o desaprendizado é complexo: use-o durante um mês no braço contrário e acompanhe as sensações desagradáveis que virão à tona nestes próximos dias.
O ato de aprender exige três coisas fundamentais: disposição, método e disciplina. Aprende-se muito pouco quando a pessoa não está aberta ao seu próprio desenvolvimento. Contudo, muita vontade é insuficiente quando inexiste uma metodologia que norteie a retenção e uma rotina que nos faça seguir aquilo a que nos propusemos.
No caso do desaprendizado, as atitudes decisivas são muito diferentes: desapego, aceitação ao erro e incoerência. A pessoa precisa estar aberta ao descarte de ideias e coisas, já que é difícil imaginar que guardando quinquilharias na cabeça, escritório ou casa alguém esteja disposto a mudar. Também é necessário ser menos exigente consigo mesmo, divertindo-se com os próprios erros, pois ao recomeçar inevitavelmente você falhará algumas vezes. E, por fim, talvez o mais difícil: ser incoerente. Para uma pessoa organizada, por exemplo, é muito complicado permitir-se um pouco de bagunça, mas esta contradição é que permite que um mundo novo ilumine-se diante de seus olhos.
Por conseguinte, as pessoas que desaprendem são mais questionadoras no âmbito profissional. Não se satisfazem porque as coisas deram certo da primeira vez e sempre procuram localizar oportunidades para melhorarem seu desempenho. São inquietas, mas ao mesmo tempo, simples e humildes. Como as crianças, fazem as perguntas que muita gente considera óbvias ou jamais ousou questionar.
Isto não impede que você tenha referenciais nos diversos campos de sua vida, já que eles são importantes. Todavia, para desaprender é necessário zerar periodicamente uma boa parte do processador que existe em seu cérebro e não procurar a toda hora o único jeito certo de fazer as coisas. A ousadia e a experimentação, logo, é que possibilitam o reaprender.
É claro que as pessoas que desaprendem nem sempre encontram terreno fértil nas empresas onde trabalham, principalmente quando a estrutura organizacional é rígida e se espera que seus comportamentos estejam de acordo com o padrão. Neste caso, há duas opções: permanecer sendo visto como um extraterrestre ou procurar um lugar no qual o ambiente permita que você pense fora da caixa.