Considera-se familiar toda empresa que sofra ingerência em sua política geral devido aos objetivos e interesses dos familiares que componham esta organização. Analisando por este prisma, é fácil perceber que o maior obstáculo acaba sendo evitar que as questões particulares prejudiquem o seu bom andamento e, até mesmo, sua sobrevivência futura.
O estudo do Sebrae revelou a importância da participação familiar durante a fase de criação da empresa, contudo demonstrou que isto não é observado nas fases de crescimento e maturidade dos empreendimentos. Sim, as empresas dependem muito mais do comprometimento dos seus membros familiares ao abrirem, e bem menos quando já caminham estruturadas.
Sabendo disto, acaba sendo fundamental que os proprietários definam as questões jurídicas (sucessão familiar e doações, por exemplo) e façam uma correta distinção entre o patrimônio familiar e os bens da empresa logo na abertura da mesma – sugestão nem sempre acatada.
A imparcial delegação de tarefas (quem cuida do quê) também evita uma boa dose de rancor e desentendimentos tolos. É preferível que um profissional gabaritado ocupe determinado cargo a confiá-lo a um membro da família sem competência para a função – vou além, este tipo de decisão geralmente acaba garantindo a sobrevivência ou sepultando a empresa.
O problema é que poucos proprietários dão ouvidos a esta orientação. Por quê? O raciocínio é simples: a maioria acredita que os membros da família são mais confiáveis que profissionais competentes, mas sem laços sangüíneos.
Também vale lembrar que o empresário não deve ter receio de demitir um parente, quando necessário. A dor é grande no início, mas passa: empresa familiar exige distanciamento afetivo e profissionalismo. É por isto que os membros com laços de sangue precisam definir e monitorar constantemente os papéis de cada colaborador.
A pesquisa ainda apontou outros grandes pecados das famílias empreendedoras:
– parentes participarem dos negócios sem critério de ingresso;
– oferecer qualquer função a um familiar e colocar os sucessores em funções de assessoria;
– responsabilizar parentes sem experiência pelo gerenciamento do escritório central;
– fazer do sucessor um mero observador;
– fazer distinção entre os salários de familiares e funcionários em igualdade de funções.
Para evitar problemas como estes, algumas organizações já vêm impedindo de forma taxativa, através de seus contratos sociais, o ingresso de familiares em seus quadros de colaboradores. Uma atitude bastante polêmica, mas que revela o medo de repetir fracassos passados em novos empreendimentos.
Espero não estar deixando você assustado(a), mas até mesmo o sucesso profissional traz consigo prejuízos no campo pessoal. Muitos empresários raramente conseguem viajar com seus familiares, pois quando um sai de férias o outro volta, e vice-versa. Quanto à carga de trabalho, costuma ser superior a dez horas diárias para a maioria destes. Dias atrás ouvi de um empresário que gerencia um negócio ao lado de sua mulher: ‘Um dos maiores problemas é sairmos da empresa, irmos para casa e ‘continuarmos em serviço’, conversando sobre assuntos profissionais’, disse ele.
Mesmo diante de tudo isto, vale a pena trabalhar em uma empresa familiar quando os sentimentos são isolados do gerenciamento da mesma e percebe-se que seu futuro é realmente promissor – este é o meu testemunho.
