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Empresas moedoras de gente

Se você quer conservar a sua sanidade mental, fique longe delas
Grego. Muito Além da Hierarquia. 9ª ed. São Paulo: Editora Gente, 2007. p. 62

Dias atrás, conversando com um profissional que recentemente pediu demissão de uma empresa bastante conhecida no mercado, após poucos meses de trabalho por lá, perguntei o motivo da sua saída e a resposta foi: “Eles são moedores de gente”. A expressão, forte e impactante, ficou reverberando na minha cabeça.

Afinal, o que leva uma companhia a ser vista dessa forma pelos próprios colaboradores? E o mais importante: quantas outras empresas, em vez de nutrir seus talentos, acabam triturando a saúde mental e emocional das pessoas?

Infelizmente, o cenário descrito por esse profissional não é exceção. Só para você ter uma ideia, segundo uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (ISMA-BR), 72% dos brasileiros ativos no mercado sofrem com sequelas oriundas do trabalho.

O esforço é esperado, mas raramente recompensado. Feedbacks servem somente para corrigir falhas, jamais para destacar conquistas.

Mas, o que faz com que uma empresa se torne “moedora de gente”?

Tudo começa com uma cultura baseada no tripé competitividade predatória, líderes opressores e muita pressão emocional. Ou seja, funcionários tratados como recursos descartáveis, sujeitos a metas inalcançáveis e espremidos por prazos desumanos. E quando o inevitável acontece – o esgotamento físico e emocional – a solução não é uma política de acolhimento ou um programa de saúde mental e sim a substituição do colaborador exaurido por outro que, em pouco tempo, passará pelo mesmo ciclo.

A falta de reconhecimento é outra marca dessas empresas. O esforço é esperado, mas raramente recompensado. Feedbacks servem somente para corrigir falhas, jamais para destacar conquistas. O que cria um ambiente de insegurança constante, onde o medo de errar supera a vontade de inovar ou colaborar. As pessoas se sentem “pisando em ovos” a todo momento…

Porém, o problema não para aí. Outro fator que agrava a toxicidade é a ausência de limites entre vida profissional e pessoal. A famosa “cultura do e-mail a qualquer hora” vira regra, e as tentativas de impor limites são vistas com maus olhos. Em resumo, para muitos líderes dessas empresas, dedicação significa abdicar da vida fora do trabalho.

E é claro, em uma empresa moedora de gente a rotatividade é encarada como algo natural. Em vez de a alta liderança reconhecer o entra-e-sai como um claro sintoma de que a companhia promove um ambiente tóxico, trata o turnover de pessoal como algo inevitável e aceitável.

Se você trabalha em uma empresa assim, saiba que tem colocado seu equilíbrio emocional, a sua qualidade de vida e até mesmo a própria carreira em risco. Ainda que hoje ganhe bastante dinheiro por lá, os custos indiretos não compensam.

E se você está à frente de uma moedora de gente, lembre-se: empresas que tratam pessoas como peças descartáveis inevitavelmente acabam se desmanchando sob o peso de sua própria desumanidade.

Ouça a entrevista sobre esse mesmo assunto que fizemos na coluna da rádio CBN:

Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

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