
Caso a sua companhia precise passar por uma grande transformação – e rápido –, uma das saídas pode ser simplesmente escutar aquelas pessoas que são vistas como hereges, igual a Sears fez. Dar voz a quem fala coisas que soam divertidas e despropositadas pela maioria, ou então tem sido encarado como inimigo por quem já está no negócio há anos.
Muitas empresas perdem a chance de se reinventar porque o pensamento racional as domina. Mesmo que o discurso público alimente o “pensar fora da caixa”, na prática ninguém se arrisca porque sabe que se trata apenas de blá-blá-blá.
Ao longo da minha carreira de consultor, várias vezes deparei com pessoas dizendo: “Eu tenho algumas ideias para resolver esse problema”. E o que fiz foi simplesmente escutá-las e depois dar força àquilo que diziam junto à direção da empresa. A solução já estava ali há algum tempo, só não havia clima para que esses colaboradores apresentassem suas propostas.
Na maior parte das empresas há uma série de regras tácitas sobre o que pode e o que não pode ser dito ou feito. E como as pessoas geralmente aprendem cada uma delas? Acompanhando com atenção o que leva alguém a ser considerado um incrédulo ou acabe “jogado na fogueira”.
Mas é claro que você precisa ter discernimento para compreender quem é herege e quem apenas é um equivocado de quinta categoria. Ninguém deve perder seu tempo escutando aquele tipo de gente que apenas pretende causar confusão por onde passa. Aliás, enquanto o herege é propositivo e entusiasmado com a possibilidade de uma nova ordem das coisas, o equivocado se contenta em tecer críticas ao trabalho dos outros, mesmo quando não tem a mínima ideia do que fazer de diferente.
Também é preciso estar atento se existem vacas sagradas na companhia. Isto é, pessoas que você não está a fim de demitir de maneira alguma, mas que só reforçam o jeito tradicional de fazer as coisas, boicotando todo tipo de iniciativa de mudança. Será que os resultados que essas pessoas alcançam cobrem os custos que elas provocam para a organização? No caso da Sears, Martinez considerou que não.
É muito difícil transformar uma empresa se você não quer abrir mão de algumas pessoas que hoje atrasam o crescimento de todos, afinal a saída de uma vaca sagrada é o maior atestado da mudança. “Se até Fulano foi desligado, não há dúvida de que o projeto X é pra valer”, passa a ser o tipo de conversa que se ouve pelos corredores, superando o ceticismo.
Praticamente todas as empresas, inclusive a sua, têm pelo menos uma pessoa com potencial de abordar questões que a maior parte dos colaboradores encara como grandes heresias. Você só precisa sentar hoje mesmo com quem trabalha no seu negócio há menos de noventa dias e lhe perguntar: “O que você faria de diferente se estivesse no meu lugar?”
Desafiar o status quo e vencer os padrões dominantes é um desafio e tanto para qualquer empresa e dirigente. Porém, o trabalho fica um pouco menos complexo quando alguém nos alerta acerca das pequenas e importantes coisas que insistimos não ver ou fazer.