Um grande equívoco de muitos gestores é confundir o exercício da liderança com tarefas e atividades que remetem apenas a uma boa zeladoria do setor, departamento, área, equipe, empresa ou projeto pelo qual são responsáveis.
Zeladoria tem a ver com o esforço de manter as coisas que existem em ordem e pleno funcionamento. Como o próprio nome diz, zelar por aquilo que está em suas mãos. Ser cuidadoso com as responsabilidades que lhe foram confiadas.
Você exerce zeladoria, portanto, quando monitora o desempenho dos colaboradores diretos, fica de olho nos principais indicadores gerenciais e/ou “cheira fumaça” de longe. E a prova maior de que cumpre esse papel é receber uma nota dez em qualquer processo de auditoria externa.
O exercício da liderança é diferente da zeladoria porque envolve transformação. James Kouzes e Barry Posner, no clássico O desafio da liderança (Ed. Alta Books), inclusive lembram:
“A palavra liderar significa, em sua raiz, ‘ir, viajar, guiar’. Liderança tem, assim, um sentido cinestésico, um senso de movimento. Os líderes ‘vão primeiro’, são pioneiros. Iniciam a busca de uma nova ordem. Aventuram-se em território inexplorado e nos guiam rumo a lugares novos e desconhecidos”.
Consequentemente, enquanto a zeladoria busca conformidade, a liderança exige mudanças. Em vez de controle e segurança, implica na sua disposição de enfrentar o caos e a incerteza. Quando poderia se satisfazer com a melhoria incremental, você prefere a inovação por ruptura.
É por isso que a liderança reside em conquistas, como: implantar um novo processo crítico, mesmo com a resistência de algumas pessoas chave; depois de uma conversa difícil, seu colaborador melhorar a performance no trabalho; ou, ainda, você emplacar um novo produto que amplia o horizonte de vendas do time comercial.
Até mesmo a Parábola dos Talentos (Mt 25,14-30), contada por Jesus, ensina um pouco sobre essa diferença. O homem que recebeu um talento do seu senhor logo o escondeu debaixo da terra, com medo de perdê-lo, preocupando-se em ser um bom zelador. Já os colegas que receberam dois e cinco talentos, logo saíram para multiplicá-los graças ao seu espírito de liderança.
E quase todo mundo conhece o final da história: o primeiro foi amaldiçoado pela sua covardia em correr riscos, enquanto os outros dois personagens tiveram sua liderança reconhecida pelo chefe.
No trabalho de gestão boa parte do nosso tempo é dedicada ao papel de zeladoria porque precisamos criar processos que funcionem no dia a dia. Porém, a marca da sua liderança sempre estará na competência de mover as pessoas e a própria organização para o novo. Quem é bom apenas em dar continuidade ao que já existe não é líder nem aqui nem na China.