Dez anos atrás, durante uma palestra na qual contava um pouco da sua trajetória como empresário bem-sucesso da construção civil, escutei o senhor Atsushi Yoshii dizer algo que ressoou muito forte em mim: “Prever é inteligência, interferir é coragem”.
Mas o que significa, na prática, ter a coragem de interferir?
Primeiramente, interferir não é se intrometer. E muito menos microgerenciar, como se fosse preciso controlar tudo e todos ao redor. Pelo contrário: um líder de verdade confia na equipe, dá espaço e fomenta a autonomia. Mas também sabe a hora certa de entrar em cena.
Imagine, por exemplo, um gerente comercial que, acompanhando de perto a evolução dos resultados do mês, percebe um ritmo de trabalho aquém do necessário e esforços dispersos. Ele poderia simplesmente esperar, torcer, deixar rolar. Mas interfere. Reorganiza prioridades, chama os vendedores para uma conversa franca e ainda combina com o time ações de curtíssimo prazo. Ao final do mês, quando a meta é batida, sabe que foi cirúrgico.
Essa é a diferença entre interferir e se omitir. A omissão costuma ser confortável. Não mexe com o humor das pessoas, não atrita com colegas ou superiores. Mas custa caro. Às vezes, custa um projeto inteiro.
Há um trecho de uma entrevista com a ex-CEO da PepsiCo, Indra Nooyi, que ilustra bem essa ideia. Ao falar sobre seu papel como líder, ela disse: “Se você entrar em uma sala e todos concordarem com você o tempo todo, algo está errado. O líder precisa ser capaz de colocar os pontos difíceis na mesa.” Isso é interferir. É fazer perguntas que ninguém quer fazer. É desafiar o consenso confortável.
Consequentemente, significa ter disposição para conversas difíceis – com pares, subordinados, superiores, clientes e fornecedores. Assumir o risco de ser mal interpretado, de desagradar, de romper com a harmonia artificial que impera.
“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”. Albert Einstein
Empresas saudáveis são aquelas em que há espaço – e incentivo – para que todos exerçam esse tipo de interferência construtiva. Em que ninguém é punido por falar a verdade. Em que o líder é quem assume o papel de guardião do que é certo, inclusive quando sua popularidade está em jogo.
Quantas vezes equipes fracassam não por má intenção e sim porque ninguém teve coragem de dizer o óbvio? Quantos projetos desandam porque os alertas vieram tarde demais? Quantos negócios naufragam porque o “eu falei e ninguém me escutou” serve de justificativa para quem é incapaz de interferir?
Enfim, é importante sempre lembrarmos o ensinamento do físico Albert Einstein: “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”.
E por aí, você é alguém que costuma interferir?