Em meu trabalho de consultor é comum encontrar pessoas nas empresas cuja rotina parece girar em torno da máxima: “preciso provar que meu chefe é incompetente”. E para não restar dúvida alguma de que elas estão certas, levantam argumentos irrefutáveis, como as inúmeras tomadas de decisão equivocadas, a centralização excessiva ou então as atitudes infantis quando o assunto é relacionamento com as pessoas, por exemplo.
É claro que muitas dessas reclamações têm fundamento, afinal ainda é bastante comum encontrarmos gestores que cometem falhas bizarras aos olhos até mesmo de quem está iniciando sua carreira. Além disso, nos últimos anos ouvimos falar tanto acerca daquilo que os líderes inspiradores fazem que qualquer profissional hoje em dia espera que o seu chefe também seja um deles. E quando este demonstra uma competência muito aquém do modelo idealizado, a frustração é inevitável.
O que boa parte dos profissionais ainda não aprendeu é que de vez em quando também precisam praticar a liderança para o alto, ou seja, liderar seus chefes. Atitude que não deve ficar restrita àqueles que trabalham com gestores medíocres, pois ninguém consegue acertar sempre e mesmo um líder eficaz só pode se tornar melhor ainda ao contar com subordinados que não o deixam ser traído pelo sentimento de infalibilidade.
Entretanto, muitas pessoas evitam liderar para o alto por crerem que só pode atuar como guia aquele que ocupa uma posição formal de gestão. Concordo que nas empresas tradicionais de cultura rígida e hierárquica é muito mais complicado encontrar um ambiente no qual a pessoa se sinta segura para recomendar algo ao seu chefe, mas até neste tipo de companhia tenho visto pessoas sem cargos de expressão aconselharem o topo e serem escutadas.
Liderar para o alto é ter a capacidade de influenciar quem está acima de você na estrutura organizacional e a condição prévia para praticá-la é sentir-se responsável por mostrar ao superior imediato ou àqueles que estão vários níveis acima que algum problema ou ponto de vista não tem recebido a atenção devida.
Só que não espere convencer o seu líder apenas por ter razão. O fato é que de nada adianta apresentar um discurso coerente se você não consegue vender aquilo que vê sob a perspectiva dele. Antes de mais nada é preciso questionar-se: “Como vou mostrar ao pessoal lá de cima que se continuarmos nesta direção o barco vai afundar sem que me peçam para calar a boca?”
As pessoas que influenciam para cima geralmente são escutadas porque têm competência técnica, são cativantes ou dão o exemplo. Se você é respeitado pelo domínio em sua área de atuação, é bem mais fácil ser ouvido pelo chefe. Aquele que é carismático e agregador também costuma receber a atenção quando liga o alerta para o alto staff e não podemos esquecer que alguém com autoridade moral sobre o líder imediato tem tudo para ser seu conselheiro.
Ou seja, sem manter um bom nível de relacionamento com o chefe você precisa ser mágico para alcançar seus ouvidos. É o convívio maduro e os laços de confiança já criados que lhe dão a credibilidade necessária para defender aquilo que acredita ser o correto, mesmo que isto implique escancarar os erros dele.
E não menos importante é a habilidade de reconhecer o momento ideal para expressar as opiniões e ainda escolher o canal adequado. Vender uma ideia por e-mail é insuficiente em 95% dos casos e um telefonema só é recomendado se você tem certeza de que seu chefe vai reagir bem à sua fala. Idem àquele assunto-chave que não dá para ser tratado na reunião semanal com todo mundo junto e pode encaixar como uma luva se a conversa for conduzida no café da esquina.
Como dica final, mantenha a humildade. Muitas vezes você aconselhará seu líder, terá o ponto de vista acatado e os resultados aparecerão, mas o crédito ficará com ele. Mesmo que o reconhecimento público não venha, uma coisa é certa: dali em diante ele certamente escutará tudo aquilo que você tem a dizer.