Em muitas organizações, há sempre um nome que aparece quando o problema aperta: é ele quem resolve as coisas. Se falta gente, ele cobre. Se o projeto trava, ele vai lá e empurra. Se a equipe desanima, ele é o primeiro a levantar a moral.
Essa figura versátil, incansável e indispensável ganhou, com afeto e ironia, o apelido de “líder Severino”, em referência ao clássico personagem de João Cabral de Melo Neto. Mas, ao contrário da conotação trágica do poema, o líder Severino das empresas é símbolo de resistência e multifuncionalidade. Um verdadeiro “pau para toda obra”.
Esse tipo de liderança emerge, sobretudo, em ambientes onde a estrutura é enxuta, os desafios são grandes e a definição de escopo é fluida. Em startups, empresas familiares ou organizações em expansão, o líder Severino é quase inevitável. Ele faz o papel do gestor, mas também do analista, do conselheiro, do carregador de caixas e, por vezes, até do técnico de manutenção improvisado. Em resumo: cuida de tudo, com boa vontade.
Porém, nem tudo são flores. A liderança Severina, quando se prolonga demais, é repleta de efeitos colaterais indesejados. Quem centraliza demais as entregas, os aprendizados e até os relacionamentos faz com que a empresa e o time fiquem dependentes dele, além é claro de colocar em risco a sua própria saúde física e emocional.
Parte do que alimenta essa forma de agir está no tipo de reconhecimento que o líder Severino recebe. “Se não fosse ele, nada andava aqui!”, “Você é demais!” e “Eu nunca encontrei alguém tão competente na vida!” são frases que afagam o ego, criando um ciclo difícil de romper. Afinal, quem não gostaria de ser visto como indispensável? Mas há um preço alto por carregar o mundo nas costas.
Conheci certa vez um gerente comercial que era chamado informalmente de Severino pelos colegas. Ele cuidava do planejamento, da equipe, visitava clientes, negociava preços, aprovava campanhas, controlava o estoque e ainda acompanhava o faturamento. Era admirado por todos. Mas, após uma crise de estafa que o levou ao hospital, a empresa descobriu o quanto sua operação estava vulnerável sem ele. Foi só então que começaram a rever os processos, delegar responsabilidades e preparar um sucessor. O Severino não perdeu espaço – ganhou fôlego e maturidade.
O alerta é claro: o “líder Severino” pode ser um diferencial importante em determinadas fases do negócio, mas jamais deve se tornar um modelo de gestão eficaz para a sua empresa. Liderar é, acima de tudo, fazer as coisas por meio de outras pessoas. E, para isso, é crucial organizar processos, distribuir responsabilidades e garantir que as coisas funcionem mesmo quando você não está por perto.
Ser Severino pode ser um mérito, mas só é virtude quando não se transforma em prisão.