Imagine que você trabalha como gerente e logo após perceber uma queda na produtividade da sua equipe decide investir em treinamentos de gestão do tempo para sanar o problema. Porém, meses depois, os resultados continuam os mesmos porque a questão era emocional: time desmotivado por falta de reconhecimento.
A solução estava certa — para o problema errado. O que explica a essência da Lei de Kidlin: “Se você não está lidando com o problema real, então não importa o quanto se esforce, você não vai resolvê-lo.”
Hoje em dia, somos constantemente pressionados a agir. Tomar decisões rápidas, entregar resultados, “apagar incêndios”. Mas será que estamos realmente apagando os incêndios certos — ou jogando baldes d’água onde não há fogo?
A Lei de Kidlin é um lembrete valioso de que diagnosticar mal um problema é o caminho mais seguro para desperdiçar tempo, dinheiro e energia.
Na gestão de equipes, isso acontece com frequência. Um líder observa dois colaboradores em conflito e imediatamente interpreta como um choque de personalidades. Propõe sessões de mediação, mas nada muda. Só depois descobre que o verdadeiro motivo era a sobrecarga de trabalho e a falta de fronteiras claras nos respectivos cargos (onde começa e termina o trabalho de cada um). Diagnóstico errado, solução ineficaz.
Esse erro de percepção é mais comum do que parece. Estudos de comportamento organizacional indicam que mais de 60% dos gestores resolvem os sintomas antes de compreenderem as causas. E isso vale para todas as áreas: marketing que substitui campanhas ao invés de revisar o posicionamento de mercado, RH que investe em clima organizacional sem encarar lideranças tóxicas, operações trocando fornecedores quando o problema é o processo interno.
O respeito à Lei de Kidlin exige quatro boas práticas:
- Faça perguntas melhores – Ao invés de “como resolvemos isso?”, questione “por que isso está acontecendo?” Troque a urgência da resposta pela curiosidade da investigação.
- Ouça mais, fale menos – Líderes eficazes sabem que as pessoas mais próximas do problema geralmente têm insights valiosos. Escute quem vive a rotina.
- Busque dados, não apenas opiniões – Nem todo problema se revela de imediato. Analise indicadores, observe padrões, colete evidências. A intuição é importante, mas deve ser testada.
- Teste pequenas soluções – Antes de investir em mudanças radicais, arrisque pequenas intervenções e observe o impacto. Às vezes, o problema se revela só quando começamos a mexer no sistema.
Grandes líderes não se apressam em oferecer respostas. Eles têm coragem de conviver com a dúvida por um tempo, até que o problema real apareça com clareza. É o oposto do estilo “resolvedor compulsivo” que, por ansiedade ou vaidade, apresenta soluções que parecem brilhantes, no entanto logo depois se revelam irrelevantes.
E uma curiosidade, afinal quem foi Kidlin? Ninguém sabe ao certo. Assim como a Lei de Murphy, o valor da Lei de Kidlin está na sua sabedoria prática – e não na assinatura por trás dela. Um lembrete atemporal de que resolver o problema errado, mesmo com excelência, continua sendo um erro.