Liderança é, boa parte das vezes, ser capaz de fazer grandes coisas por meio de outras pessoas. Isso explica por que a centralização excessiva e a dificuldade de delegar tarefas são empecilhos para qualquer executivo que almeja se tornar um líder eficaz.
Porém, o problema de líderes que dependem especialmente da sua competência individual para fazer acontecer nem sempre tem a ver com uma personalidade controladora. Em inúmeras empresas, eles só não contam com as “pessoas certas”.
O consultor norte-americano Jim Collins explica: “Você é um motorista de ônibus. O ônibus, a sua empresa, está parado, e é seu trabalho decidir para onde ir, como vai chegar lá e quem vai com você. Grandes líderes começam por colocar as pessoas certas no ônibus, as pessoas erradas fora do ônibus, e as pessoas certas nos lugares certos”.
Mas, como saber quem é quem? Pessoas certas são aquelas que compartilham dos valores da empresa e entregam resultados. Você precisa cuidar delas com carinho, pois são preciosas. Algumas outras estão a caminho do sucesso, mas ainda não chegaram lá –, como é o caso de quem tem os valores, apesar de resultados pouco expressivos. O seu papel é treiná-las.
Também pode ser que vocês contem com pessoas competentes e que, infelizmente, relutam em seguir os valores da companhia. Esses colaboradores precisam ser engajados logo ou você terá de tomar a difícil decisão de retirá-los do ônibus, pois causam danos à cultura.
Já aqueles que não apresentam bons resultados e nem seguem os valores devem ser demitidos o quanto antes. Aliás, a pergunta é: “O que esses profissionais ainda estão fazendo em sua empresa?” A permanência deles mina qualquer expectativa de uma boa liderança.
Estou convicto de que a regra número um para contratar as pessoas certas é aprendermos a arte de farejá-las. E, para isso, já durante o processo de seleção, a principal dica é: enfatize aos candidatos por que não é fácil trabalhar na sua companhia, em vez de falar apenas sobre como são incríveis.
Se vocês têm um ambiente de trabalho incrível, pessoas talentosas e projetos inovadores, conte tudo. Porém, destaque também a grande pressão por resultados, por que você costuma ser chato, como os principais clientes provocam estresse no time etc. Mostre o lado que as pessoas só costumam enxergar depois de aceitarem a oferta.
Quando o explorador irlandês Ernest Shackleton foi recrutar marinheiros para a Expedição Antártida, em 1914, ele escreveu esse anúncio: “Procura-se homens para uma jornada perigosa. Salário baixo, frio intenso, longos meses de escuridão total, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso.”
Cinco mil pessoas se candidataram e ele escolheu 27 homens. Se você conhece a história sabe que a viagem planejada para durar alguns meses levou incríveis dois anos e nove meses. Eles ficaram presos no gelo antártico, enfrentaram temperaturas abaixo de 30 graus negativos em boa parte dos dias, muitas vezes não tinham o que comer, mas todos sobreviveram incrivelmente. Motivo? Antes de mais nada, eles eram as pessoas certas para aquele tipo de desafio.
É por isso que o mesmo Jim Collins nos ensina: primeiro quem, depois o quê. Antes de pensar no tipo de trabalho a ser feito, avalie criteriosamente quem deve entrar no barco, no ônibus ou na sua empresa.