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Quando a média liderança amadurece, a empresa muda

O desenvolvimento gerencial pode ser a chave para transformações que o topo ainda não conduz

Quando a média liderança amadurece, a empresa muda“Por aqui, o que precisamos é amadurecer o bezerro, não a vaca.” A frase, dita pela gerente de RH durante uma conversa franca sobre os desafios da liderança em sua empresa, me soou, à primeira vista, quase como uma piada. Mas depois de alguns segundos, ela revelou uma sabedoria dura e precisa sobre como as mudanças realmente acontecem dentro das organizações.

É comum que se espere das diretorias o protagonismo nas grandes transformações — e, de fato, seu exemplo tem um impacto enorme. Mas, na prática, quem garante que as ideias saiam do papel e se transformem em realidade é a liderança do meio. São os gerentes e coordenadores que traduzem estratégias em ações, conectam o discurso com a prática e mantêm o time em movimento.

Segundo o estudo Global Leadership Forecast, da DDI, empresas que investem no fortalecimento da média liderança têm 4,2 vezes mais chances de superar suas metas. Não por acaso: são esses líderes que influenciam diretamente o clima, a produtividade e o engajamento da equipe. Quando amadurecem e ganham autonomia, tornam-se uma alavanca poderosa de mudança. Quando se omitem, viram gargalos invisíveis que estancam qualquer tentativa de avanço.

No caso específico da frase citada, a “vaca” era a alta direção — um grupo que, apesar de ocupar a posição de maior influência na estrutura da empresa, não demonstra disposição para liderar as transformações culturais e implementar as práticas de gestão que o crescimento acelerado está exigindo no momento. O “bezerro”, por sua vez, representa justamente essa média liderança que, apesar de ainda pouco atuante, possui muito espaço para amadurecer.

Não se trata de atribuir aos gerentes uma responsabilidade que não é deles, mas sim de reconhecer a margem real de ação que possuem. Mesmo quando a alta cúpula está alheia ou inerte, é possível movimentar a organização a partir do centro. Afinal, à medida que um gerente assume de fato seu papel, a dinâmica entre os níveis hierárquicos começa a se transformar.

Ele deixa de ser apenas um mensageiro de insatisfações do time passando a atuar como um tradutor estratégico. Aprende a filtrar, priorizar e resolver. Começa a fazer perguntas melhores antes de escalar um problema: isso é uma questão de clima, processo ou competência? Precisa subir ou posso resolver aqui? E se precisar escalar, como faço isso com cuidado, sem ruído ou desgaste desnecessário?

Esse amadurecimento exige boa vontade. Mais do que uma questão de tempo no cargo, é uma escolha de desenvolvimento. E começa com o abandono de dois hábitos bem comuns entre gerentes: terceirizar a culpa para cima e repassar o desânimo para baixo.

Nem sempre dá para começar a transformação pelo topo. Em alguns contextos, o buraco é mais embaixo. Mas ainda assim, é possível trabalhar com quem está perto da operação e aberto à mudança. Amadurecer o bezerro, nesse caso, não é abrir mão da vaca — é começar de onde ainda há esperança.

Quando a média liderança se fortalece, o sistema se reorganiza. E a vaca, com o tempo, percebe. E, quem sabe, se mexe também.

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Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

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