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Só os paranoicos sobrevivem mesmo

O sucesso gera a complacência. A complacência gera o fracasso. Só os paranoicos sobrevivem.

A década de 1990 também foi marcada por graves crises econômicas, uma série de mudanças disruptivas nos mais diferentes mercados, o alvorecer de grandes empresas de tecnologia – como a Amazon e o Google – e a certeza de que os bons tempos de estabilidade haviam ficado para trás.

O lendário Andy Grove, CEO da Intel na época, inclusive publicou um livro com o provocativo título “Só os paranoicos sobrevivem”, explicando em detalhes cada uma das transformações que ocorriam naquele momento da história.

Aliás, não sei se você sabe, mas foi Grove quem comandou a bem-sucedida guinada da Intel. De uma fabricante de memórias quase falida, a companhia passou a produzir microprocessadores para PCs e servidores, num movimento estratégico que a levou à liderança do mercado. E bem no momento em que milhões de pessoas como nós buscavam adquirir o seu primeiro computador pessoal.

A ideia poderosa contida nas páginas da obra de Grove – e válida até hoje – é essa: O sucesso gera a complacência. A complacência gera o fracasso. Só os paranoicos sobrevivem”.

Quando as coisas estão indo bem, é comum que os executivos se acomodem, perdendo o interesse pela busca de novas oportunidades que possam ser exploradas pela companhia. Como aconteceu, por exemplo, com a empresa canadense RIM (Research in Motion), fabricante do BlackBerry. Em pouco tempo ela deixou de ser a líder de mercado por simplesmente deitar em berço esplêndido. E hoje é um player irrelevante quando alguém pensa em comprar o seu próximo smartphone.

Ao recomendar que sejamos um pouco paranoicos, Grove ensinou que devemos desconfiar dos fundamentos do sucesso do nosso negócio. É imprescindível nos mantermos sensíveis e em alerta sempre.

Mesmo que a sua empresa esteja passando pela pandemia sem maiores percalços, continuar a se perguntar: “Será que estamos incorrendo em algum tipo de miopia? Qual mudança tecnológica, de regulação governamental ou no comportamento dos clientes pode alterar a nossa posição vantajosa de uma hora para a outra?”

Ser paranoico em gestão, portanto, é ficar atento às relações sutis entre as coisas a fim de perceber o que ninguém mais enxerga no momento. Saber ligar as pontas soltas. Como o grande Philip Kotler diz, “permanecer com o alerta vermelho ligado”. Sobretudo neste momento ímpar da história, no qual as práticas de negócios estão mudando abruptamente.

Não é incorporar o lado ruim da paranoia. Isto é, o pensamento delirante crônico no qual o indivíduo suspeita que está sendo perseguido ou crê que algo de ruim vai lhe acontecer a qualquer instante. No qual fica vendo coisas que não existem.

De hoje em diante, quando alguém chamá-lo de paranoico, não se sinta ofendido logo de cara. Lembre-se daquilo que a escritora norte-americana Octavia Butler registrou em seu belo livro Parábola do Semeador, que possivelmente inspirou Grove: “Também precisamos de um pouco de paranoia para continuarmos vivos”.

Wellington Moreira

Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Como desenvolver líderes de verdade” (Ed. Ideias e Letras), “Líder tático” e “O gerente intermediário” (ambos Ed. Qualitymark).

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