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Comportamento na multidão

Teoria do Contágio

Na adolescência morava em uma pequena cidade do interior do Paraná e um dos fatos que mais me marcou na época foi o que aconteceu durante uma passeata pela paz promovida pela sociedade civil em um domingo nublado.

Na semana anterior, um homem havia sido morto por sufocamento em uma abordagem policial desastrosa, gerando uma grande comoção no município. Por isso mesmo, quando surgiu a ideia da passeata muita gente logo aderiu à proposta.

Contudo, o que se sucedeu naquele domingo foi surpreendente. Em um determinado momento da caminhada, os ânimos começaram a se exaltar, palavras de ordem ecoaram e um grupo de pessoas decidiu depredar a delegacia de polícia. Depois, um segundo bando ateou fogo na casa do militar acusado pelo crime e até o módulo da Polícia Rodoviária Federal foi destruído. Um verdadeiro efeito manada.

Anos depois eu soube que esse fenômeno tem nome nos estudos de Psicologia Social: a Teoria do Contágio. Isto é, a influência hipnótica que a multidão exerce sobre seus membros em algumas situações a ponto de pessoas atuarem de forma irracional quando envolvidas por emoções contagiosas e protegidas pelo anonimato.

Portanto, se você está à frente de algum grupo em seu trabalho ou fora dele, saiba que pessoas boas realmente são capazes de cometer pequenas ou grandes transgressões quando fazem parte de uma multidão. Como é o caso de quem estaciona seu veículo na estrada para saquear um caminhão de cerveja que tombou minutos antes, acompanhando o comportamento de outros motoristas – e acredita que não cometeu crime algum.

Em contrapartida, as pessoas nem sempre respondem ao efeito manada. Na obra “A sabedoria das multidões”, James Surowiecki explica aquilo que muitas vezes vejo acontecer em equipes de alta performance. A agregação de informação em um grupo maduro costuma resultar em decisões que quase sempre são melhores do qualquer outra que um membro isolado poderia tomar.

Para isso, Surowiecki lembra que são necessários quatro elementos:

      • Diversidade de opiniões. Pessoas que pensem de forma diferente umas das outras para elevar o nível do grupo.
      • Independência. A capacidade de os membros do grupo apresentarem suas convicções publicamente sem serem afetadas pelas opiniões dos seus semelhantes.
      • Descentralização. O estímulo para que as pessoas busquem informações fora do seu ambiente local a fim de saber mais respeito dos temas que importam a elas.
      • Agregação. Existência de algum mecanismo que faça com que cada ponto de vista individual possa ser levado em conta na hora em que a decisão coletiva é tomada.

A partir de hoje te convido a ficar atento ao seu comportamento quando está rodeado por muitas pessoas. Nessas horas você fica propenso a seguir o voto da maioria ou consegue pensar por conta própria? Teme dizer aquilo que passa pela sua cabeça ou é capaz de sustentar as suas convicções mesmo sendo o único que defende aquele ponto de vista na mesa? As respostas a essas perguntas dizem muito sobre você.

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