Se você quer avaliar a capacidade de liderança de alguém, observe como a pessoa atua em papéis com pouca ou nenhuma estrutura. Isto é, acompanhe de perto como ela age quando assume alguma missão na qual existem dúvidas razoáveis sobre o que realizar primeiro – em meio a várias tarefas críticas que parecem requerer atenção no curto prazo.
Uma coisa é estarmos à frente de um trabalho estruturado, com alto nível de padronização e rotinas que foram criadas e aprimoradas por terceiros ao longo do tempo. Outra coisa bem diferente é conduzirmos um projeto ou área com a responsabilidade de nós mesmos construirmos tudo praticamente do zero.
É claro que empresas consolidadas proporcionam experiências de gestão e o domínio de boas práticas que costumam fazer a diferença em uma trajetória de carreira. Porém, nada exige tanta liderança quanto o exercício de papéis que requerem, antes de mais nada, disposição de sobra para “cortar o mato alto”.
Sei que uma boa parcela dos executivos não enxerga as coisas sob essa perspectiva. Eles querem se comprometer com os resultados apenas se e quando contarem com um dream team, recursos financeiros a perder de vista, processos de classe mundial e clientes pouco exigentes. Uma utopia…
Ser a pessoa responsável por estruturar as coisas na sua empresa até pode não conferir glamour e ainda traz trabalho a perder de vista, sim. Mas os dividendos também são atrativos:
— Visão e estratégia. Você aprende a articular uma visão clara do futuro e a aprimorar o tipo de raciocínio analítico que vai orientá-lo na maior parte das vezes em que tiver de tirar uma boa ideia do papel.
— Tomada de decisão. Quando não há um protocolo estabelecido, saber fazer boas escolhas costuma ser mais complicado. Por isso, você é forçado a melhorar a sua análise de informações e a capacidade de julgamento na hora de tomar decisões difíceis.
— Comunicação e engajamento. Você se vê impulsionado a agir como um “evangelizador incansável” a fim de manter o time focado no trabalho que importa e também para suprir a ausência de rotinas já consolidadas.
— Criatividade. Montar uma estrutura do zero muitas vezes requer pensamento não-convencional e abertura para experimentar abordagens que não são senso comum. Logo, você é empurrado a pensar fora da caixa.
— Adaptação e flexibilidade. Aquela máxima de “teste rápido, erre rápido e corrija rápido” orienta o seu trabalho. Afinal, você é impelido a ajustar sua abordagem conforme necessário e ainda a aprender a superar os obstáculos que vão surgindo ao longo do caminho.
Saber lidar com a falta de estrutura é parte do trabalho de um gestor – e sempre. E se hoje mesmo você for promovido a um novo papel de supervisor, coordenador, gerente, diretor ou CEO, a única certeza é que mais trabalho desestruturado está à sua espera.
Ouça a entrevista sobre esse mesmo assunto que fizemos na coluna da rádio CBN: