Nos últimos anos, o conceito de liderança empática vem sendo distorcido a ponto de transformar muitos gestores em seres fofinhos. O medo de desagradar, de parecer duro demais ou de ser “cancelado” dentro da empresa fez surgir uma nova geração de líderes que preferem o silêncio ao confronto, o elogio fácil ao feedback sincero e o consenso artificial à decisão corajosa.
Mas liderança não é concurso de popularidade. É sobre fazer o que precisa ser feito — inclusive quando isso desagrada. O investidor e autor Ben Horowitz costuma dizer que “se você toma decisões que todos gostam o tempo todo, então está apenas fazendo o que fariam sem você”. Ou seja: se prefere ser querido a ser relevante, talvez nem esteja liderando, apenas é alguém simpático.
E o economista Sergei Guriev acrescenta uma camada essencial a essa discussão: “Coragem é tomar decisões difíceis sabendo que elas deixarão pessoas descontentes com você — e ainda assim tomá-las”. Uma frase que poderia estar colada na tela de cada gestor que confunde empatia com condescendência.
É claro que times liderados por gestores assim até parecem tranquilos: ninguém confronta ninguém, o clima é leve, os sorrisos são educados. Mas basta investigar um pouco para encontrar uma equipe sem alta performance, com baixo senso de responsabilidade e o perigoso hábito de terceirizar resultados.
A consultoria Zenger Folkman conduziu um estudo com mais de 160 mil colaboradores e 30 mil líderes que revelou que a combinação ideal para engajamento é contar com líderes exigentes e empáticos ao mesmo tempo. Os gestores apenas fofinhos, que evitam conflitos e focam em agradar, obtiveram as piores taxas de engajamento. Já os que conseguiam equilibrar firmeza e cuidado apresentaram equipes até dez vezes mais comprometidas. Portanto, o problema não é ser gentil — é ser gentil demais a ponto de se tornar irrelevante.
O fato é que líderes fofinhos criam uma cultura de imaturidade emocional no qual as pessoas passam a confundir desconforto com injustiça e começam a esperar que o chefe as proteja de qualquer frustração. A consequência é um ambiente em que o aprendizado diminui, a responsabilidade desaparece e o crescimento fica condicionado à validação constante. O resultado? Equipes entusiasmadas, mas frágeis; satisfeitas, mas medíocres.
Um líder maduro não se guia pelo desejo de ser amado e sim pelo compromisso de ser útil. Então, da próxima vez que você se pegar ponderando se vale a pena “pegar leve” demais, lembre-se: ser querido é bom; ser relevante é melhor. Seu papel não é evitar o desconforto do outro e sim ajudá-lo a percorrer a jornada com dignidade.