Todo líder precisa ter consciência sobre qual é a sua relação com o tempo. Por exemplo, você está mais conectado ao que já passou, ao que está acontecendo agora, ao que está prestes a acontecer ou ao que ainda está bem afastado no horizonte?
Pode parecer uma simples reflexão filosófica, mas ela é profundamente prática. A forma como você se relaciona com o tempo molda suas decisões, o jeito como lida com as pessoas e, no fim das contas, o futuro da sua carreira.
Alguns líderes vivem no passado. Adoram falar das conquistas de quando a empresa era menor, das vitórias que alcançaram anos atrás, das fórmulas que deram certo “naquela época”. São os líderes-memória que, apesar de respeitáveis, decidiram ficar presos à sua história, ignorando a sabedoria popular que ensina: o retrovisor é útil, mas quem dirige olhando só por ele vai acabar batendo.
Outros líderes foram hipnotizados pelo presente. Estão sempre ocupados. Entram e saem de reuniões. Vivem na pressão do agora, esquecendo que urgência sem direção é só barulho. Os líderes operacionais, necessários, porém raramente transformadores. Aqueles que conduzem as coisas no ritmo de quem sobrevive — e não de quem constrói.
Há também os que focam no futuro imediato: metas do trimestre, fechamento do mês, crescimento rápido. São os obsessivos por performance. Gente que corre com o farol baixo, vendo o que está perto, sem enxergar o que está além. Acelerados, cobram demais, espantam as pessoas que mais poderiam ajudá-los e, quase sempre, são incapazes de sustentar bons resultados.
E há os líderes raros — aqueles que olham especialmente para o futuro distante. Que pensam em formar sucessores, em construir cultura, em criar um legado. Que sabem que liderar não é só entregar resultados e, por isso mesmo, investem tempo em conversas difíceis, em reflexões profundas, em preparar o terreno para algo que talvez nem eles mesmos colham. Esses são os líderes-jardineiros: plantam hoje pensando no que vai florescer daqui a anos.
Um exemplo potente é o de Ed Catmull, cofundador da Pixar. Ao perceber que a cultura criativa da empresa era seu maior diferencial, ele decidiu conscientemente dedicar menos tempo às reuniões operacionais e mais à criação de um ambiente onde as ideias pudessem florescer. Criou o “Braintrust”, um fórum de diálogo franco entre os diretores, e investiu pessoalmente na manutenção de um clima onde as pessoas pudessem falhar, tentar de novo e ousar.
Ao fazer essa escolha, ele não apenas entregou filmes brilhantes (como Toy Story e Up) como também ajudou a construir uma cultura de inovação sustentável. Ed não liderava só pensando no próximo lançamento. Ele pensava em como manter viva a alma criativa da Pixar por décadas. E conseguiu.
E você? Para onde está olhando?
Se só repete o que já deu certo, cuidado para não ficar irrelevante. Se só apaga incêndios, cuidado para não queimar o futuro. Se só corre atrás de metas imediatas, cuidado para não perder as pessoas no caminho.
No fim das contas, a pergunta não é “como está sua agenda?” e sim “a serviço de qual tempo você está liderando?”. E posso te dizer uma coisa: não há nada mais estratégico do que dedicar sua presença ao que ainda não chegou, mas depende de você para nascer.
Pense nisso!