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A inovação por ruptura

É fundamental ter em mente que a inovação por ruptura ocorre somente quando você começa a prestar atenção nos não-clientes.

A vantagem competitiva das empresas nesta chamada Era do Conhecimento está diretamente relacionada à capacidade de inovação. Se o custo baixo, a qualidade dos produtos, o fator tempo e a flexibilidade organizacional se revezaram como questões-chave no cotidiano corporativo durante as últimas décadas, hoje está à frente quem consegue transformar o seu mercado de atuação.

Até pode parecer que eu esteja cometendo o infortúnio de abordar um tema já exaustivamente debatido, mas se concordamos que boa parte dos empresários reconhece a importância de investirem recursos em inovação, praticar o que discursam é outra história. E até mesmo quem possui o DNA inovador às vezes adormece na hora errada.

Veja o caso da Microsoft. No último mês de julho a companhia fundada por Bill Gates anunciou o primeiro prejuízo trimestral desde que se tornou uma empresa pública em 1986. Entre outros motivos, o resultado é reflexo da queda nas vendas de PCs que rodam o sistema operacional Windows porque os consumidores estão preferindo adquirir tablets que comportam outros softwares.
O fato surpreendente é que no início de 2010, antes mesmo de a Apple lançar o iPad, a Microsoft chegou a apresentar timidamente – durante uma feira tecnológica nos EUA – a versão de um tablet produzido em parceria com a HP e voltado inicialmente apenas para o mercado corporativo. Já a empresa da maçã disponibilizou sua invenção para quem quisesse comprar e empolgou o mundo. Resultado: naquele mesmo ano a Apple vendeu 14 mi de unidades ao passo que o HP Slate 500 teve somente nove mil comercializações.
De lá para cá a companhia de Bill Gates acompanhou o crescimento deste mercado parecendo acreditar que a onda dos tablets seria passageira e agora, com o fluxo de caixa pressionado e pesquisas indicando que a venda destes aparelhos superará o número de PC’s já em 2015, o lançamento do aguardado Windows 8 em outubro próximo tem a missão de colocar a Microsoft no jogo.
Aquilo que ocorre em seu negócio tende a não ser muito diferente, ainda mais porque mercados inteiros encontram-se em visível transformação. O que vale refletir é se a companhia aonde trabalha está provocando as mudanças ou tendo de reagir a elas.
Quando o físico Thomas Kuhn publicou “A Estrutura das Revoluções Científicas” há exatos cinquenta anos, já defendia que o progresso da ciência não ocorre por meio de inovações incrementais e sim via drásticas rupturas no modelo vigente. O que uma empresa de vanguarda faz quando lança produtos e serviços originais ou inventivas formas de se comunicar e interagir com os públicos de interesse.
Segundo o professor americano Clayton Christensen, que atualmente é a maior referência mundial em inovação por ruptura, o segredo destas organizações está no fato de criarem soluções simples, convenientes e de baixo custo que seduzem consumidores insatisfeitos com as empresas que os atendem ou estão cansados de ter de tomar decisões frente a tantas ofertas disponíveis e muito semelhantes.
Além disto, o próprio Christensen lembra que “se a empresa é bem-sucedida como está, o melhor é que continue focada em seu negócio central e estabeleça uma estrutura à parte para encarregar-se do projeto de inovação”. Isto é, não tente mudar os rumos da sua empresa no mesmo ambiente em que as pessoas precisam cumprir rotinas, realizar processos detalhados e abraçar valores. Ou você terá problemas.
E é fundamental ter em mente que a inovação por ruptura ocorre somente quando você começa a prestar atenção nos não-clientes. Enquanto os compradores usuais reforçam o foco da sua empresa para mudanças que têm por objetivo mantê-los em carteira, aqueles o levarão à pergunta crucial: “O que posso fazer de diferente para que eles também sejam meus clientes?”. É assim que se começa.
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