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A era dos distraídos

São tantos estímulos atrativos que, não raramente, podemos deixar de lado aquilo que importa de verdade para nos concentrarmos em coisas que deveriam ser ignoradas

Em 1971, o economista e cientista político Herbert Alexander Simon criou o termo Economia da Atenção para defender a ideia de que no futuro a atenção humana seria um bem tão escasso a ponto de ser tratado como mercadoria pelas empresas.

Hoje, sabemos que a sua previsão foi certeira. Companhias como Google, Facebook, Netflix, Amazon e Apple fazem de tudo para disputar a nossa atenção e nem sempre de forma honesta. Os mecanismos de persuasão, que vão desde simples anúncios veiculados em pop-ups até estratégias sutis de manipulação, são capazes de nos prender por horas e horas nas telas dos tablets e smartphones sem que nos demos conta.

Esse movimento sórdido começou quando as empresas perceberam que já não reagíamos mais ao velho jeito de fazer propaganda e publicidade por estarmos distraídos quando o comercial de TV passava na frente dos nossos olhos. E, como consumidores, começamos a sofrer as consequências assim que logaritmos complexos passaram a ser utilizados pelas grandes empresas de tecnologia na venda de seus produtos e serviços.

Ao baixar um aplicativo útil pelo qual não paga nenhum centavo, saiba que você é o produto. Afinal, como ensina o ditado: não existe almoço grátis. Aliás, já está provado que o custo seria muito menor se você pagasse pelo aplicativo agora e depois não tivesse que arcar com a conta que chega junto com os danos à sua saúde mental.

Mas é claro que há pessoas distraídas também por outros fatores, como demandas concorrentes. Dias atrás, um profissional liberal que conheço bem me confidenciou que, apesar da sua dedicação em quatro frentes de negócios complementares, nenhuma delas tem dado retorno financeiro. E depois de escutá-lo com atenção só conseguia pensar que o problema ali não é incompetência ou falta de visão estratégica (pois todos os negócios parecem promissores) e sim dispersão da atenção.

Um terceiro dispersor é o excesso de informações que chegam até todos nós diariamente. São tantos estímulos atrativos que, não raramente, podemos deixar de lado aquilo que importa de verdade para nos concentrarmos em coisas que deveriam ser ignoradas.

Bem, e o que é possível fazer para não nos transformarmos nos seres autômatos tão bem descritos por Aldous Huxley em “Admirável Mundo Novo”, que passam a sua existência distraídos? Três dicas:

  • Aprimore o seu espírito crítico. Não consuma conteúdos, produtos ou serviços só porque já existe um batalhão de pessoas fazendo a mesma coisa;
  • Fique só o tempo necessário na frente das telas. E quando for hora de se distrair, prefira um bom livro ou hobby ao ar livre em vez de navegar nas redes sociais.
  • Pare de valorizar quem fica o tempo todo ocupado. Essas pessoas geralmente preferem se manter distraídas em vez de focalizar o que realmente importa.

Ser seletivo com aquilo que você consome não é só uma questão de dieta alimentar. Também vale para tudo mais que chega até seus olhos, ouvidos, nariz e boca.

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