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A armadilha da alienação

Se você tem um papel de líder no seu trabalho, hoje em dia precisa fazer um esforço enorme para não cair na armadilha da alienação.

Se você tem um papel de líder no seu trabalho, hoje em dia precisa fazer um esforço enorme para não cair na armadilha da alienação. Como os desafios empresariais são cada vez mais exigentes e complexos, fingir que os problemas simplesmente não existem, ficando alheio ao que se passa, realmente é tentador.

Durante a pandemia, por exemplo, conheci gestores que aproveitaram o refúgio forçado em casa para desaparecer quando suas organizações mais precisavam deles. Diante da fragilidade de não saber direito para onde conduzi-las naquele momento ímpar, a atitude covarde de fugir parecia a melhor saída.

Mas nós não precisamos de pandemias para identificar traços da alienação em líderes. Ela também está presente sempre que existe uma alta rotatividade na equipe em razão de um ambiente tóxico e o gestor prefere acreditar que as pessoas estão saindo só por conta de uma oferta atrativa de salário.

Ou, ainda, em quem passa tempo demais reclamando do governo enquanto a sua empresa perde mercado. Se analisassem a situação friamente, veriam que os clientes continuam comprando, mas agora da concorrência. O problema é que a pessoa alienada prefere acreditar em qualquer motivo que a mantenha longe da realidade.

Outro traço da alienação em líderes é a busca incessante por distrair a mente com trivialidades. Refugiar-se em hábitos que não agregam quase nada, como ficar horas navegando nas redes sociais, maratonando séries em plataformas de streaming ou, ainda, dormindo o fim de semana todo. Fico imaginando o que vai acontecer então quando bilhões de pessoas puderem escolher uma vida paralela no multiverso guiada pelo seu avatar perfeitinho.

É claro que todos precisamos de “momentos de respiro” a fim de recuperar o fôlego e, nessas horas, navegar pelo Instagram, assistir um filme que o agrade ou até mesmo dormir até tarde são boas opções à mesa. Mas, lembre-se: uma coisa é recarregar as baterias e outra bem diferente é cultivar hábitos que consomem o seu tempo apenas com o intuito de mantê-lo longe dos problemas.

Se tem uma coisa que eu aprendi nessas últimas duas décadas trabalhando com desenvolvimento de líderes é que o amadurecimento de um gestor é diretamente proporcional à sua capacidade de tolerar o desconforto. Quem escolhe o caminho fácil progride muito pouco.

Lembre-se que o contrário da alienação é a lucidez. E, para alcançá-la, existem três atitudes centrais:

  • Sempre enxergue a realidade como ela é e não como gostaria que fosse. Teorias da conspiração, fake news e o coelhinho da Páscoa não combinam com liderança.
  • Mantenha por perto pessoas que deem feedback a você sem filtros, ainda que algumas coisas que elas venham a lhe dizer soem brutal em um primeiro momento. Como ensina a sabedoria popular: “Mais vale uma verdade amarga do que uma doce mentira”.
  • E pergunte-se todos os dias: “Se eu fosse demitido hoje o que o novo gestor faria de diferente logo que ocupasse o meu lugar?” Pois bem, vá lá e faça você mesmo antes que isso aconteça.

Lucidez é uma das virtudes mais preciosas que você pode cultivar de agora em diante.

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