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Mentores e conselheiros

Ao buscar um mentor ou conselheiro para a sua carreira, não deposite nele a responsabilidade de fornecer respostas para os seus clientes.

mentores-conselheirosCom carreiras cada vez mais longas, boa parte dos profissionais já tem consciência de que sábios conselheiros podem ajudá-los em momentos-chave de suas vidas profissionais, especialmente se o repertório que possuem ainda revela certo grau de imaturidade ou as circunstâncias requerem decisões complexas.

Na obra-prima “Odisseia”, o poeta grego Homero conta que o personagem principal Ulisses confiou ao amigo Mentor a educação e a tutela do filho Telêmaco logo que foi comunicado de que teria de ausentar-se da família para lutar na sanguinolenta Guerra de Troia.

E quão sensata decisão foi aquela. Durante os longos anos que se seguiram, Mentor responsabilizou-se pela formação do caráter de Telêmaco e estava ao seu lado nos momentos em que este precisou enfrentar perigos dos mais diversos, assumindo assim um papel decisivo na transição da infância para a vida adulta daquele jovem. Além disto, foi quem o acompanhou, quando decidido a procurar o pai, saiu em direção a uma jornada na qual arriscava a sua vida.

No entanto, este processo de formação foi ricamente detalhado apenas em 1699 com a obra “As Aventuras de Telêmaco” na qual o educador francês Fénelon se debruçou à tarefa de contar como Mentor orientava seu pupilo a tomar decisões e a arcar com as responsabilidades de cada uma delas durante o tempo em que conviveram.

Se você levanta a bandeira de serviços como o coaching e o mentoring para o desenvolvimento profissional de alguém, é importante levar em conta que estas ferramentas não são modismos. O próprio Fénelon assumiu a tutela do neto de Luis XIV, papel semelhante àquele que executivos experientes tomam para si hoje em dia quando atuam como mentores de jovens profissionais com alto potencial ou então dos consultores que orientam empreendedores à frente de start-ups.

Muitos novos negócios não dão certo e carreiras promissoras naufragam exatamente porque os atores principais se fecham a tudo e a todos ou então creem que podem superar sozinhos – e a qualquer instante – as limitações identificadas. O jogador (ou ex-jogador) Adriano é o exemplo perfeito de alguém talentosíssimo que jogou fora valiosos anos de carreira por não contar com alguém habilidoso o suficiente para influenciá-lo a seguir a vida que um atleta de alto rendimento precisa cultivar.

Ao mesmo tempo, abrir-se à escuta ativa é um gesto de humildade. Todos nós precisamos saber qual o impacto de nossas ações e palavras perante os outros e se ninguém nos informar a respeito, como cresceremos? Como desenvolveremos todo o potencial que carregamos se não soubermos aonde temos errado e quais são os acertos? Ninguém cresce sem feedback!

A autoconfiança é uma dádiva, contudo ela pode levá-lo a crer numa capacidade suprema para resolver problemas sobre os quais não detém competência suficiente ou conservá-lo míope diante de perspectivas que poderiam levá-lo a decisões mais eficazes se o seu horizonte de percepção estivesse alargado.

Só tome o cuidado de compartilhar seus anseios e dúvidas com alguém que realmente tenha bagagem profissional e de vida. Que já possua experiência suficiente para apontar o que precisa ser sopesado por você e não ambicione fornecer as respostas prontas, numa espécie de passo-a-passo. Ah! E se você me permite um conselho: mantenha distância daqueles que adoram palpitar recomendações sobre os mais variados assuntos sem a mínima base conceitual.

Ao buscar um mentor ou conselheiro para a sua carreira, não deposite nele a responsabilidade de fornecer respostas para os seus problemas. O papel desta pessoa é tão-somente ajudá-lo a formular as perguntas corretas e a perceber o que precisa ser avaliado no momento em que você mesmo toma as próprias decisões.

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